ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

poder das religiões islâmicas sobre o território mais sagrado do mundo. Os cruzados tomaram
o monte dos muçulmanos em 1099 e transformaram templos em igrejas, um erro tático que os
israelenses decidiram não repetir quando conquistaram a região leste de Jerusalém em 1967.
Israel agora mantém um controle rigoroso sobre o acesso ao monte, mas a administração dos
santuários muçulmanos, assim como da terra sagrada sobre a qual estão erguidos, permanece
nas mãos do Waqf, a autoridade religiosa muçulmana.
O trecho do Muro das Lamentações visível da praça tinha quase 60 metros de largura
por cerca de 20 de altura. O muro inteiro, no entanto, era muito maior, indo praça abaixo por
mais ou menos 15 metros e se estendendo por mais de 400 metros até o Bairro Muçulmano,
onde ficava escondido atrás de construções residenciais. Depois de anos de escavações
arqueológicas marcadas intensamente por política e religião, hoje é possível caminhar por
quase toda a extensão do muro através de uma passagem subterrânea que vai da praça até a
Via Dolorosa. Esperando por Gabriel na entrada, estava uma jovem com uma saia discreta e o
lenço de judia ortodoxa na cabeça.
— Ele tem trabalhado sem parar num ponto próximo à Caverna — disse ela, num tom
confidencial. — Aparentemente, encontrou algo importante, porque está um caco.
— Mas ele não está sempre assim?
Ela riu e conduziu Gabriel até o topo de uma escada estreita de alumínio, que o levou
para baixo da Cidade Antiga e de volta no tempo. Ele parou por um instante embaixo do Arco
de Wilson, a ponte que, nos tempos de Jesus, ligava o Monte do Templo à parte alta de
Jerusalém, e seguiu ao longo de um caminho recentemente pavimentado na base do muro. As
imensas rochas eram frias ao toque e brilhavam à luz das lâmpadas. Poucos metros acima,
estavam as caóticas ruas do mercado do moderno Bairro Muçulmano, mas ali embaixo o
silêncio era absoluto.
A parte do túnel conhecida como Caverna era uma pequena sinagoga parecida com uma
gruta, erguida num trecho do muro que era considerado o ponto mais próximo da localização
antiga do Santo dos Santos. Como de praxe, um pequeno grupo de mulheres ortodoxas rezava
ali, com os dedos pressionados em reverência na pedra do muro. Gabriel passou por elas em
silêncio e se dirigiu a uma cortina de lona pendurada a alguns metros de distância. Um
pequeno aviso escrito à mão alertava sobre o perigo e instruía os visitantes a se afastarem.
Gabriel atravessou a abertura e olhou para dentro de uma vala de escavação com pouco mais
de 5 metros de profundidade. Lá embaixo, sob luzes brancas intensas, um único arqueólogo
batia delicadamente na terra negra com uma espátula.
— O que é? — perguntou Gabriel, sua voz ecoando no espaço vazio.
— Você deveria perguntar "Quem é?" — corrigiu-o Eli Lavon. Ele se moveu para o
lado a fim de revelar o foco de seus esforços: o ombro, o braço e a mão de um esqueleto
humano. — Nós a chamamos de Rivka. E, a menos que eu esteja enganado, o que é muito
improvável, ela morreu na mesma noite em que o Templo foi destruído.
— Evidências, professor Lavon — exigiu Gabriel, desafiando-o de brincadeira. —
Onde estão as evidências?
— Em volta dela — respondeu Lavon, apontando para as pedras retangulares enfiadas
no solo. — São as pedras do próprio Templo e estão aqui porque os romanos as jogaram por

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