— O quê?
— Você me ama mesmo?
— Chiara...
Ela se virou de costas para Gabriel.
— Desculpe — falou depois de um tempo.
— Pelo quê?
— Pelo bebê. Se eu não o tivesse perdido, você não iria a Paris sem mim. Gabriel não
respondeu. Chiara subiu devagar em seu corpo.
— Você me ama mesmo? — insistiu ela.
— Mais do que qualquer coisa.
— Prove.
— Como?
Ela o beijou nos lábios e sussurrou:
— Prove, Gabriel.
21
Rue de Miromesnil, Paris
Antigüidades Científicas era uma loja solitária ao final da rue de Miromesnil, onde
turistas raramente eram vistos. Algumas pessoas no comércio de antigüidades de Paris haviam
insistido com o proprietário, o melindroso Maurice Durand, para que mudasse para a rue de
Rivoli, ou até mesmo o Champs-Élysées. Mas ele resistia por medo de ter que passar seus
dias a observar norte-americanos acima do peso metendo as mãos em seus preciosos
microscópios, câmeras, óculos e barômetros, mas indo embora de mãos vazias. Além do mais,
monsieur Durand preferia a vidinha ordeira naquele trecho silencioso do arrondissement.
Havia um bar do outro lado da rua onde ele tomava café pela manhã e bebia vinho à noite. E
também Angélique Brossard, uma comerciante de estatuetas de vidro que estava sempre
disposta a mudar a placa em sua vitrine de OUVERT para FERMÉ toda vez que Durand
aparecia para uma visita.
Mas ele tinha outra razão para não ceder à atração das ruas mais movimentadas de
Paris. A Antigüidades Científicas, embora razoavelmente lucrativa, era uma fachada para sua
ocupação principal. Durand era especialista em levar pinturas e outras obras de arte de casas,
galerias e museus para as mãos de colecionadores que não se importavam com detalhes
inconvenientes como uma proveniência limpa. Ele às vezes era considerado um ladrão de arte,
embora não concordasse por completo com essa caracterização, pois havia muitos anos que
não roubava pessoalmente uma pintura. Agora, Durand operava apenas como intermediário no
processo conhecido como roubo encomendado
— ou, como gostava de descrever, ele administrava a aquisição de pinturas que,
tecnicamente, não estavam à venda. Seus clientes eram homens que não gostavam de ser
desapontados e Durand quase nunca os deixava na mão. Trabalhando com um grupo de ladrões
profissionais de Marselha, ele fora o elemento central de alguns dos maiores roubos da