Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

à procura de um parente perdido? Tenho certeza de que Otto Krebs não
poderá ser o seu tio. E tenho algumas dúvidas de que seja René Duran de
Montreal. Agora se me permite. Voltou costas para sair. Gabriel tocou-lhe
no braço.
— Poderia pelo menos mostrar-me a campa?
O padre suspirou, em seguida olhou para os vitrais. Estavam
negros.
— Está escuro — disse. — Dê-me um momento.
Atravessou o altar e desapareceu para dentro da sacristia. Um
momento mais tarde surgiu vestindo um capote castanho e com uma
enorme lanterna na mão. Conduziu-os para fora por um portal lateral, em
seguida por um trilho de gravilha entre a igreja e a reitoria. No final do
caminho estava um pórtico. O padre Morales levantou o trinco, acendeu a
lanterna e conduziu-os para o cemitério. Gabriel caminhou ao lado do
padre por um trilho estreito coberto de ervas daninhas. Chiara estava um
passo atrás.
— Rezou-lhe uma missa fúnebre, padre Morales?
— Sim, claro. De fato, tive de ser eu próprio a tratar dos
preparativos. Não havia mais ninguém para fazê-lo.
Um gato surgiu detrás de uma campa e parou no trilho em frente a
eles, os seus olhos refletiam como faróis amarelos o brilho da lanterna. O
padre Morales enxotou o gato e este desapareceu pela relva alta.
Chegaram próximo das árvores do cemitério. O padre virou à
esquerda e conduziu-os pela relva à altura do joelho. Aqui o trilho era
demasiado estreito para se caminhar lado a lado, então avançaram em fila,
com Chiara a segurar a mão de Gabriel, apoiando-o.
O padre Morales, chegando ao fim de uma fila de lápides, parou e
apontou a lanterna para baixo num ângulo de 45 graus. O foco caiu sobre
uma lápide simples que exibia o nome OTTO KREBS. O ano do seu
nascimento está gravado como 1913 e o ano da sua morte como 1983. Por
cima do nome, dentro de uma pequena elipse de vidro riscado e gasto pelo
tempo, estava uma fotografia.


GABRIEL AGACHOU-SE E, sacudindo uma camada de pó fino,
examinou o rosto. Evidentemente que tinha sido tirada alguns anos antes
da sua morte, porque o homem da fotografia era de meia-idade, talvez de
quarenta e muitos. Gabriel tinha pelo menos uma certeza. Não era o rosto
de Erich Radek.
— Presumo que não seja o seu tio, Monsieur Duran?

Free download pdf