Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

mas omite o fato que, tecnicamente falando, é uma instalação do governo. A
entrada é de gravilha e tem quase um quilômetro e meio de comprimento.
À direita fica um bosque denso; à esquerda, um pasto cercado por uma
vedação de madeira. A vedação causou indignação nos operários locais
porque o "dono" contratou uma firma de fora para tratar da sua
construção. Dois cavalos baios residem no pasto. Segundo os entendidos da
Agência, eles são sujeitos anualmente, como todos os outros empregados, a
polígrafos para garantir que não se passaram para o outro lado, seja lá qual
for esse lado.
A casa estilo colonial está localizada no topo da propriedade e
cercada por árvores de sombra alta. Tem um telhado acobreado e um
alpendre duplo. O mobiliário é rústico e confortável, convidativo à
cooperação e camaradagem. Delegações de serviços amigáveis já ficaram
ali. Assim como homens que traíram os seus países. O último foi um
iraquiano que ajudou Saddam a tentar construir uma bomba nuclear. A sua
mulher tinha esperanças num apartamento do famoso Watergate e
queixou-se amargamente durante toda a estada. Os seus filhos incendiaram
o celeiro. A gerência ficou contente ao vê-los partir.
Nessa tarde, neve recente cobria o pasto. A paisagem, esgotada de
toda a cor através das janelas fumadas do automóvel pesado, parecia a
Gabriel como um esboço a carvão. Alexander, recostado no banco da frente
com os olhos fechados, acordou subitamente. Bocejou de forma exagerada,
olhou para o relógio de pulso, e franziu-se quando percebeu que estava
ajustado na hora errada.
Foi Chiara, sentada ao lado de Gabriel, que reparou na careca figura
armada em sentinela parada junto aos balaústres do alpendre de cima.
Gabriel inclinou-se do banco de trás e olhou para ele. Shamron ergueu a
mão e manteve-a assim por um momento, antes de se virar e desaparecer
para dentro da casa. Saudou-os no hall de entrada. Ao seu lado, vestindo
umas calças de bombazina e uma camisola de malha, estava um homem
pequeno com uma auréola de caracóis cinzas e um bigode cinza. Os seus
olhos castanhos eram tranquilos, o seu aperto de mão calmo e breve.
Parecia um professor catedrático, ou talvez um psicólogo clínico. Não era
uma coisa nem outra. De fato, ele era o diretor de operações delegado da
Central Intelligence Agency, e o seu nome era Adrian Carter. Não parecia
contente, mas dado o estado das questões globais, raramente estava.
Cumprimentaram-se de forma cuidada, como homens do mundo
secreto têm tendência a fazer. Usaram nomes reais, dado que eram todos
conhecidos uns dos outros e a utilização de nomes de trabalho teria dado

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