— E depois dos corpos serem queimados?
— Esmagávamos os ossos e voltávamos a enterrá-los nas valas ou
levávamos em carroças para despejar no rio Bug.
— E quando as valas antigas ficaram vazias?
— Depois disso, os corpos eram levados diretamente das câmaras
de gás para as assadeiras. Funcionou assim até outubro desse ano, quando
o campo foi fechado e todos os traços foram obliterados. Operou por pouco
mais de um ano.
— E mesmo assim conseguiram assassinar oitocentos mil?
— Não foram oitocentos mil.
— Quantos foram então?
— Mais de um milhão. É qualquer coisa, não é? Mais de um milhão
de pessoas, num lugar minúsculo como este, no meio de uma floresta
polonesa.
GABRIEL TIROU A lanterna do rosto dele sacou a Beretta.
Empurrou Radek com o cano. Caminharam ao longo de uma trilha, pelo
campo de pedras. Zalman e Navot ficaram para trás no campo de cima.
Gabriel conseguia ouvir os passos de Oded na gravilha atrás dele.
— Parabéns, Radek. Graças a você, é apenas um cemitério
simbólico.
— Vai me matar agora? Não disse o que queria ouvir?
Gabriel empurrou-o pelo trilho.
— Você talvez tenha algum orgulho deste lugar, mas para nós é solo
sagrado. Acha realmente que eu o poluiria com seu sangue?
— Então qual é o propósito disso? Por que me trouxe aqui?
— Você precisava ver isso mais uma vez. Visitar o local do crime
para refrescar a memória e se preparar para o próximo testemunho. É
assim que vai salvar seu filho da humilhação de ter tal homem na condição
de pai. Vai para Israel pagar por seus crimes.
— Não foi meu crime! Eu não os matei! Eu apenas fiz o que Müller
me ordenou. Eu limpei a porcaria!
— Teve sua cota de matança, Radek. Lembra do joguinho com Max
Klein em Birkenau? E a marcha da morte? Também estava lá, não estava,
Radek?
Radek reduziu o passo e voltou a cabeça. Gabriel deu-lhe um
empurrão. Chegaram a um amplo declive retangular cheio de lascas de
basalto negro, o local onde era a vala de cremação.