Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

estiverem unidas, a criação não está completa. Enquanto judeus este é o
nosso dever solene. Chamamos Tikkun Olam: Reparação do Mundo.
— Consigo restaurar muitas coisas, Tziona, mas temo que o mundo
seja uma tela grande demais, com muitos estragos.
— Então comece por baixo.
— Como?
— Reúna as centelhas de sua mãe, Gabriel. E castigue o homem que
quebrou o vaso.


NA MANHÃ SEGUINTE, Gabriel escapou do apartamento de Tziona
sem acordá-la e saiu pelas escadas de pedra na luz clara e cinza do
amanhecer com o retrato de Radek debaixo do braço. Um judeu ortodoxo, a
caminho das rezas matinais, pensou que ele era louco e sacudiu-lhe um
punho, zangado. Gabriel colocou a pintura no porta-mala do carro e saiu de
Safed. Um nascer do Sol vermelho surgia no horizonte. Por baixo, no vale, o
Mar da Galileia transformou-se em fogo.
Parou em Afula para o café e deixou uma mensagem no gravador de
Moshe Rivlin, avisando-o que estava a voltar a Yad Vashem. Já era fim da
manhã quando ele chegou. Rivlin esperava-o. Gabriel mostrou-lhe a tela.
— Quem a pintou?
— A minha mãe.
— Qual era o seu nome?
— Irene Allon, mas o seu nome alemão era Frankel.
— Onde esteve ela?
— No campo de mulheres em Birkenau, de Janeiro de 1943 até o
fim.
— A marcha da morte?
Gabriel declarou que sim com a cabeça. Rivlin segurou Gabriel pelo
braço e disse:
— Venha comigo.


RIVLIN LEVOU GABRIEL até a mesa da sala principal de leitura dos
arquivos e sentou-se em frente a um terminal de computador. Introduziu as
palavras "Irene Allon" na base de dados e trauteou os seus dedos
atarracados no teclado impacientemente enquanto esperava pela resposta.
Alguns segundos depois, escrevinhou cinco números num pedaço de papel
de rascunho e, sem dirigir uma palavra a Gabriel, desapareceu por uma
porta que dava para as arrecadações dos arquivos. Vinte minutos mais
tarde, regressou e colocou um documento na mesa. Por trás de uma capa de

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