Público - 05.10.2019

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20 • Público • Sábado, 5 de Outubro de 2019


SOCIEDADE


Instituto de Medicina Legal abre


concurso para 171 médicos tarefeiros


O Instituto Nacional de Medicina
Legal e Ciências Forenses (INML)
abriu um concurso para contratar
médicos. Há 171 vagas, mas todas
para contratos em regime de tarefa.
Há mais uma condicionante: não
podem candidatar-se médicos já
reformados, ao contrário do que
acontece no Serviço Nacional de Saú-
de (SNS), onde estes proÆssionais são
bem-vindos para colmatar a falta de
recursos humanos.
As regras e requisitos do concurso
foram publicados ontem em Diário
da República. Refere o aviso do con-
curso que o procedimento tem em
vista a celebração de contratos de
prestação de serviços com médicos,
para a realização de perícias na área
da medicina legal. A contratação da
prestação de serviços prevê que seja
pelo período de um ano e é feito o
aviso de que carece de parecer pré-
vio vinculativo e será sujeito a visto
do Tribunal de Contas. Um dos requi-
sitos é que os proÆssionais tenham
“uma disponibilidade mínima de
quatro horas semanais para o exer-
cício da actividade pericial”.
Em termos de vagas, por exemplo,
a delegação do Tâmega, em PenaÆel,
é a que tem mais lugares para preen-
cher. São necessários 11 tarefeiros.
Seguem-se os gabinetes de Dão/
Lafões, em Viseu, que precisa de
nove tarefeiros e o do Cávado com
oito lugares para preencher. No Sota-
vento Algarvio e no Barreiro, o Insti-
tuto abriu sete vagas para cada gabi-
nete. Para os restantes 32 gabinetes,
as vagas variam entre as seis, as cin-
co, quatro, três, duas e até uma. Por
exemplo, para Cartaxo, Moita, Mon-
tijo e Seixal há apenas uma vaga.
A contratação de médicos em
prestação de serviços tem sido mui-
to criticada, sobretudo pelo Sindica-
to Independente dos Médicos (SIM).
Contactado pelo PÚBLICO, Jorge
Roque da Cunha, secretário-geral do
SIM, referiu que lamentava que, “tal
como no SNS, se recorra cada vez
mais a prestadores de serviço em
vez de contratar os médicos recém-
especialistas”. “No INML estão lá


No Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses trabalham 63 proÄssionais integrados


no quadro. Sindicato dos Médicos critica continuação do recurso a prestação de serviços


de 213 médicos, estando apenas 63
lugares ocupados. O INML está sobre
a alçada do Ministério da Justiça. De
acordo com o SIM, até a progressão
na carreira é inexistente e o número
de vagas abertas a concurso é clara-
mente insuÆciente e não permite o
possível regresso de médicos que,
entretanto, saíram do Instituto.
A 20 de Setembro, o SIM questio-
nou a ministra da Justiça sobre a dis-
criminação em relação aos médicos
do SNS, que contratou 1700 assisten-
tes este ano enquanto no Instituto
Nacional de Medicina Legal e Ciên-
cias Forenses, aguardam sete por
essa contratação. “Do mesmo modo,
em relação aos assistentes graduados
seniores, que há mais de uma década
não são contratados no Instituto, e

SÉRGIO AZENHA

Há vagas de norte a sul do país, sendo a delegação do Tâmega a que tem mais lugares por preencher

no SNS foram 350. E, ainda, dois
assistentes graduados que aguardam
vínculo, sendo que no SNS foram
mais de 800”, segundo o SIM.
Também o bastonário da Ordem
dos Médicos, Miguel Guimarães,
tinha alertado, em Julho, para o facto
de o Instituto de Medicina Legal ter
problemas sérios, nomeadamente a
falta de 150 médicos nos seus qua-
dros, estado ocupados apenas 63.
Foi durante uma visita à Delega-
ção Norte do Instituto de Medicina
Legal, no Porto, que Miguel Guima-
rães aÆrmou que a falta de médicos
estava a causar “grandes diÆculda-
des” na realização de perícias médi-
co-legais.

sexuais, maus tratos e negligência
médica”.

Progressão inexistente
No mesmo comunicado, o SIM sub-
linhou que, quando exercem as suas
funções, “fazem-no a expensas, por
diversas vezes, da sua vida pessoal
e familiar, com horários que extra-
vasam a normal carga horária, sem
qualquer remuneração adicional,
sem descansos compensatórios e
com elevados níveis de stress e
exaustão”. Era ainda lembrado que
“a entrada para os quadros do Insti-
tuto Nacional de Medicina Legal e
Ciências Forenses, ao contrário das
entidades sob a alçada do Ministério
da Saúde, é muito irregular”. O qua-
dro do Instituto prevê necessidade

Médicos


Sónia Trigueirão


[email protected]

nove recém-especialistas que podem
ser contratados a tempo inteiro”,
aÆrmou.
Este ano, em Junho, os médicos de
medicina legal também Æzeram gre-
ve. Aliás, em Julho, o SIM, num
comunicado, recordou que “pela
primeira vez, os trabalhadores médi-
cos de Medicina Legal Æzeram dois
dias de greve, com uma adesão pró-
xima dos 100%”. Na altura, o SIM
lembrou que “os médicos legistas do
INML trabalham todos os dias em
prol do cidadão”. E explicou: “Fazem
autópsias médico-legais de vítimas
de acidentes, suicídios, homicídios
e mortes de causa ignorada; fazem
perícias de avaliação médica de víti-
mas de acidentes de viação, aciden-
tes de trabalho, agressões, incluindo
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