Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

— E cheguei à conclusão de que não posso, e não quero, ficar zangada contigo eternamente.
— Hum — assentiu Zé, deixando-a falar.
— Nós agora temos uma vida diferente. Estamos separados e cada um de nós vive na sua
casa, mas continuamos a ter um filho. O Quico precisa dos dois e não lhe faz nada bem ver os
pais sempre a discutirem. O que eu quero dizer é que, pela minha parte, estou pronta para
ultrapassar esta situação e começar a dar-me contigo normalmente, como amigos.
— Como amigos?... — Merda , pensou Zé, não era nada disto que eu queria ouvir.
— Sim, Zé, como amigos.
— E achas que... não pensas que podíamos voltar a tentar... Graça, eu sei que fiz asneira e que
te desiludi, mas a verdade é que eu continuo a gostar de ti. Aliás, eu nunca deixei de gostar de ti.
O que aconteceu não alterou nada disto e eu nem sequer pensei em separar-me de ti. Será que
não podes perdoar-me?
— Eu já te perdoei, Zé. É para isso que este jantar serve. Eu quis jantar contigo para te dizer
isso mesmo.
— Então?
— Então, uma coisa é eu perdoar-te, outra é esquecer-me. E eu nunca vou conseguir esquecer-
me do que aconteceu.
— Eu não estou a pedir-te que te esqueças. Estou a pedir-te que ultrapasses isso e que me
aceites de novo.
— As coisas não são assim tão fáceis.
— Eu sei que não são fáceis, mas não achas que merecemos uma segunda oportunidade?
— Acho que não vai ser possível.
— Achas? Porquê?
— Porque, o que tu fizeste, e eu acredito que não o fizeste com a intenção de me magoar e que
foi uma coisa esporádica, mas a verdade é que me magoou muito e que destruiu aquilo que havia
de especial entre nós.
— Não digas isso, Graça. — Zé falou com uma imensa tristeza. Estavam os dois com os
cotovelos apoiados na mesa, muito juntos, a conversar em voz baixa. Quem os visse, pensaria
que eram um casal apaixonado. — Ainda podemos recuperar tudo o que tínhamos.
Graça abanou a cabeça, lentamente, com pesar.
— Já é tarde para isso — disse.
— Não, Graça. Porque é que há-de ser tarde para isso?
— Zé — olhou-o nos olhos —, eu já conheci outra pessoa.

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