Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

QUARENTA E TRÊS


Zé estacionou o Mercedes de frente, ocupando uma parte generosa do passeio, e deixou-o
ficar assim mesmo, a um quarteirão do prédio dele, que foi onde conseguiu arranjar lugar. Deu o
braço a Regina e foram a pé até casa. Ao chegar, encontraram Sara encostada a um carro, tal e
qual como na outra noite. Zé não deu logo por ela. Vinha muito alegre, a dizer coisas
imperceptíveis a Regina e a rir-se muito. Regina apontou para Sara e Zé seguiu o seu dedo até a
localizar.
— Ainda aí estás? — disse Zé, fazendo uma associação óbvia com a última vez que a
encontrara ali encostada. — Ainda aí estás? Esta é de mais — Explodiu a rir com a sua própria
piada.
— Estou, mas é como se já não estivesse — disse Sara, furiosa.
— Mas ainda estás — observou Zé, com lágrimas nos olhos de tanto rir.
Regina tentou salvar a situação.
— Eu só vim trazê-lo a casa.
— Espere lá! — exclamou Sara, lembrando-se subitamente de onde a conhecia. — Você
trabalha naquela loja, nas Amoreiras.
— Trabalho, sim — confirmou Regina.
E não só , pensou Zé, mas teve o bom senso de não o dizer. Sara estava incrédula, tentando
relacionar as coisas. Zé imaginou o que ia na cabeça dela, adivinhou-a a descobrir que havia
sido enganada, na loja, quando ele e Regina fingiram não se conhecer. Foi um momento
constrangedor, mas, sabe-se lá porquê, ele achou um piadão àquilo e, mais uma vez, não conteve
o riso.
Sara procurou ignorá-lo.
— E como é que... — Sara apontou para um e para outro.
— Ah, pois, nós... — balbuciou Zé, com o riso a abrandar.
— ... encontrámo-nos num bar — Regina terminou-lhe a frase, adiantando-se ao disparate que
Zé acabaria inevitavelmente por dizer, se ela não conduzisse a conversa — e ele não estava lá
muito bem e, como eu o reconheci do outro dia, trouxe-o a casa. Foi isso que aconteceu.
— Pois foi, e eu convidei-a para vir dormir comigo — acrescentou Zé, todo contente.
— Ah, convidaste? — indignou-se Sara.
— Oh, cara. Qual é? — censurou-o Regina, tentando ingloriamente ajudá-lo.
— É verdade — insistiu ele, enterrando-se mais um bocadinho. — Tu até me devolveste o
dinheiro.
— Dinheiro? — perguntou Sara. — Qual dinheiro?
— Do que é que você está falando? — Regina lançou-lhe raios invisíveis com os olhos para o
chamar à realidade.

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