Zé foi sentar-se à beira do sofá, à frente dela. Fez menção de lhe erguer o queixo, mas ela
desviou a cabeça, humilhada. Tinha lágrimas nos olhos.
— Posso dizer uma coisa? — perguntou Zé.
— Eu não quero falar mais disso — respondeu Sara. A sua voz estava presa por um fio e ele
percebeu que ela ia começar a chorar, a sério. Afagou-lhe os cabelos loiros e sentiu uma enorme
ternura por ela.
— Mas vamos ter de falar — disse, num tom calmo, para a sossegar. — Sara, eu não reagi
mal ao que tu me disseste. Pelo contrário, fico muito feliz por te ouvir dizer que gostas de mim.
Eu apenas fiquei surpreendido. Até agora, não consegui ter uma relação a sério contigo. Tu vens
e vais, apareces e desapareces durante uma, duas semanas, o que calha. Sara, tu tens sido a
instabilidade em pessoa. Eu sempre pensei que tu não levavas a nossa relação a sério.
— Não percebes que eu não sou assim? — disse ela, levantando a cabeça para o encarar. As
lágrimas caíam-lhe pelo rosto. — Eu tinha medo. Era por isso que desaparecia. Não queria
prender-me muito a ti, porque tinha medo.
— Tinhas medo de quê?
— Tinha medo de que tu não gostasses de mim o suficiente, de me apaixonar por ti e tu não
quereres assumir um compromisso.
Zé respirou fundo.
— Hoje ganhei coragem para te dizer — continuou ela — e tinha razão, não tinha? Mais valia
estar calada.
— Não, não tinhas. — Abraçou-a. — É muito melhor que me digas o que sentes, em vez de te
esconderes de mim e andares com esquemas malucos.
— Não vai haver mais esquemas malucos, prometo-te.
— Óptimo — disse Zé. Conseguia sentir-lhe o coração a bater contra o seu e a respiração
quente de Sara no seu pescoço. Sara afastou-se para o olhar nos olhos.
— Sabes o que eu te vinha dizer?
— Que estás apaixonada por mim.
— Não. Sim, isso também. Mas eu queria perguntar-te outra coisa.
— Que era...
— Lembras-te de me teres perguntado porque é que eu ainda vivia com os meus pais?
— Lembro-me.
— E de eu te ter dito que era por ter uma vida muito instável e nunca estar em casa?
— Sim.
— Hoje eu falei com o meu chefe na produtora e disse-lhe que queria deixar o programa em
que ando a trabalhar há três anos. Quer dizer que vou poder estar muito mais tempo em Lisboa.
— E que vais procurar uma casa para viveres?
— Não era bem essa a ideia.
— Não?
— Não. A ideia — disse, a medo — era vir viver contigo. Se tu quisesses.
Naquele segundo Zé lembrou-se de que tinha um jantar muito importante marcado para sexta-
feira e que, se tudo corresse bem, na semana seguinte ele próprio já não estaria a viver naquele
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1