Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

atrevimento.
— Hã? — Olhou, perplexo, para a senhora ao seu lado, como se acordasse de um sonho.
— O senhor está a falar comigo?
— Eu? — admirou-se. — Não.
— Ah, pois parecia — disse ela, brusca. — Devia estar a falar sozinho.
— Pois — murmurou Zé, embaraçado. — Estava mesmo.
A porta do elevador abriu-se no piso térreo e, nesse instante, a visão tornou-se real.
— Bellu... Cátia! — exclamou, apanhado de surpresa.
— Bellu?! — repetiu Cátia, marcando cada sílaba, num certo tom de troça.
— Cátia, então? Bom dia!
A senhora olhou para Cátia, olhou para Zé, abanou a cabeça em silêncio, pediu licença,
passou pelo meio deles e seguiu o seu caminho.
Zé viu-se momentaneamente mudo, sem saber o que dizer. Deu um passo em frente, saindo do
elevador, e puxou-a gentilmente pelo braço.
— Cátia, Cátia... — disse finalmente, a ganhar tempo para pensar em qualquer coisa
inteligente.
— Figueiredo, Figueiredo — imitou-o Cátia, algo desconcertada com a atitude dele.
— Não, é que... — vacilou. — Não, oiça...
— Oiço — assentiu ela, fingindo-se séria mas sem conseguir evitar uma cara de gozo.
— Não, é que eu queria dizer-lhe para não me tratar por Figueiredo. Os meus amigos tratam-
me por Zé e mais nada. Pronto, aí estava uma coisa decente para lhe dizer.
— Ah, era isso? — exclamou, satisfeita. — Está bem, Zé, também gosto mais assim.
A porta do elevador fechou-se atrás dele.
— Fez-me perder o elevador — reclamou Cátia.
— Pois foi, desculpe — disse, atrapalhado. Carregou no botão para chamar o outro.
— Não faz mal. Estava a brincar.
— Ah, sim. — Estúpido! — Vem já aí o outro.
Soou a campainha do elevador a chegar. Abriu-se a porta e ela entrou.
— Sempre almoçamos hoje? — perguntou Zé, a espreitar para dentro, com as mãos nos
bolsos.
— Claro — confirmou Cátia antes de a porta se fechar. — Já lhe mando uma mensagem.
Zé fechou os olhos por breves segundos, respirou fundo e censurou-se em voz alta, desiludido
consigo próprio:
— Que estúpido, meu Deus, que estúpido.
— Espero que não esteja a falar de mim.
Zé abriu os olhos e embasbacou.
— Ah, olá, chefe. Não, não ligue, estava a divagar.
— Sobe?
— Subo, claro.
E lá se foi o pequeno-almoço.
O relatório da agência de Setúbal começou a avançar quando Zé reparou que o Pestana se

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