— Não?
— Não. — Claro está que isso ajuda , pensou, mas enfim, essa explicação teria de ficar para
outra oportunidade. — Eu não sou chefe de ninguém e estou muito bem assim. Não é uma coisa
importante para mim. O importante é sentirmo-nos bem com o nosso trabalho, percebes? — Não
era exactamente verdade, mas servia perfeitamente.
— Percebo — disse Quico.
— E não é ao murro que se resolvem os problemas. — Se bem que desta vez até que não tinha
sido nada mal resolvido.
Sentiu-se orgulhoso do filho. Mas regressou ao trabalho a pensar que, realmente, já estava no
banco há dez anos e não havia meio de chegar a director. E o pior era não ter perspectivas de
melhorar. Um dia Quico haveria de perceber que o colega tinha toda a razão, o pai dele nunca
seria ninguém importante. Se ao menos fosse capaz de escrever um livro, de compor uma
música ou de inventar uma merda qualquer que o tornasse famoso...
Entregou ao chefe o relatório da agência de Setúbal no fim do dia. Encheu-se de brios e não
largou o computador antes de concluir o trabalho. Nada de pausas para o café nem de intervalos
para o lanchinho. E ainda conseguiu sacar um trabalho de maior responsabilidade que,
normalmente, iria parar à secretária do Pestana. Deu-lhe um certo gozo ultrapassar o Pestana.
Um dia destes haveria de pensar numa intrigazinha para o entalar perante o chefe.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1