Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Pois — apertou os lábios e franziu a testa, num esgar de fatalidade —, é uma estupidez.
Ando a ver se desisto. — Há mais de um mês que não pegava num cigarro, mas a tensão
começava a acumular-se e, bom, não havia como um cigarro para descomprimir quando um
homem se metia em situações explosivas.
— Dás-me um? — pediu Cátia.
— Claro.
Depois aconteceu uma coisa estranha. Cátia viu-o levar a mão ao bolso, tirar o maço de
tabaco e olhar para o lado quando lhe ia oferecer o cigarro. Cátia estendeu a mão, mas ele
retirou a dele antes que ela tirasse o cigarro. Cátia levantou os olhos e viu que Zé continuava a
olhar para o lado. Percebeu que ele estava lívido e viu-o baixar a cabeça, esconder a cara com
as mãos, rodar a cadeira, inclinar-se para a frente e cair de joelhos no chão.
— Zé — exclamou, preocupada —, estás a sentir-te mal?
Zé olhou para cima, atrapalhado, e fez um sorriso desajeitado.
— Não — disse —, estou óptimo.
Cátia olhou para a esquerda e para a direita, embaraçada.
— Zé, o que é que estás a fazer?
— Não, é que se ela me vê, estou tramado.
— Ela, quem?
— Hã?
Em vez de lhe responder, Zé rodeou a cadeira de Cátia, preocupado em espreitar através da
montra, para o exterior do café.
— Zé?
— Sim?
— Ela, quem?
— Era... — levantou-se do chão a apontar para a montra —, era uma pessoa que eu não
queria que me visse.
Cátia virou-se para a montra e não viu ninguém em especial.
Só pessoas a passar.
— Quem? — perguntou.
Zé sentou-se pesadamente na sua cadeira. Cátia fitou-o, séria.
— Assustaste-me, sabes?
— Desculpa — disse, desconsolado.
Cátia viu que ele suava e pensou quem é que podia ser para o pôr neste... e, de repente,
percebeu tudo. Levou a mão à boca, como se tivesse apanhado um susto.
— Era uma amiga da tua mulher, não era?
— Como é que adivinhaste? — respondeu Zé, embaraçado.
— Zé... — repreendeu-o como se fosse uma criança apanhada a fazer uma asneira. — Zé, Zé,
Zé... — Abanou a cabeça. — A tua mulher não sabe que estás aqui?
— Claro — resmungou —, telefonei-lhe a dizer que chegava mais tarde porque ia ao cinema
com a rapariga mais gira do banco.
— Gostei dessa parte — disse ela, a sorrir.

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