Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Qual delas?
— A da rapariga mais gira do banco.
— Ah — suspirou —, julguei que estavas a dizer que gostaste de me ver aos teus pés.
Cátia tapou a boca, num escândalo alegre.
— Oh, Zé, desculpa.
— Não faz mal — disse, sarcástico. — Ri-te de mim à vontade. Eu mereço passar por estas
vergonhas. Não, a sério, não tens culpa nenhuma.
Agora Cátia estava genuinamente divertida e não conseguia parar de rir.
— Desculpa — pediu, mas os seus ombros sacudiam-se com as gargalhadinhas compulsivas.
Acabaram os dois a rir-se do disparate da situação e, de alguma forma, aquilo serviu para os
aproximar ainda mais.
— É melhor irmos embora — disse Cátia — ou ainda te atiras para o chão outra vez.
— Pois, vou a rastejar até tua casa.
Tudo isto por causa de Isabel, que era colega de Graça, colega e amiga. E nem sequer era uma
amiga qualquer. Isabel e Graça passavam os dias juntas no trabalho e almoçavam sempre as
duas para porem a conversa em dia. A seguir à própria Graça, Isabel seria, provavelmente, a
última pessoa que Zé poderia encontrar naquela noite. E fora precisamente ela que Zé vira
passar em frente ao café, de braço dado com o marido. Só espero que ela não me tenha visto ,
pensou, preocupado.
Cátia vivia ali a dois passos da Basílica da Estrela. Zé gostaria de conhecer o apartamento
dela, mas não teve essa sorte. Em compensação, Cátia despediu-se dele com um beijo quente
nos lábios e isso foi uma experiência maravilhosa, poderosa, mais rejuvenescedora do que um
ano inteiro de aulas de ténis.
— Até amanhã — despediu-se ela, com uma voz rouca que quase o levou a implorar-lhe para
que o deixasse subir.
— Não queres que te acompanhe lá acima? — perguntou-lhe, com um sorriso tolo.
— Não vale a pena, eu não me perco.
— Mas podes ser assaltada, ou assim.
— Até amanhã, Zé. — Fechou a porta do carro e foi-se embora.
De modo que a noite terminou suspensa naquele beijo tão especial.
Zé pôs o motor do carro a trabalhar e inverteu a marcha, lentamente, a caminho de casa. Não
morava longe. Pensou em Graça, não por arrependimento, mas por lhe ocorrer que Cátia fizera-
o sentir algo que Graça já não fazia, há muito tempo. Pensou que costumava haver uma excitação
avassaladora entre eles, que antigamente o amor não era uma actividade rotineira, e
compreendeu que Graça tinha perdido o seu poder mágico.
Kriptonite — murmurou, desconsolado, no silêncio do carro.
Deitou-se ao lado de Graça a recordar com emoção todos os momentos com Cátia. Já não se
lembrava de como o simples afagar de uma mão podia provocar tanto frenesim. Virou-se para o
lado. Graça dormia profundamente de boca aberta e um ressonar ligeiro. Coitadinha , pensou, se
tu imaginasses...

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