SETE
Quando uma mulher linda, de pernas compridas que não podem ser reais, nos convida para o
seu patusco apartamento piroso e nos abre as ditas, o que é que pensamos? Que está
perdidamente apaixonada por nós ou suspeitamos de que ganhou um renovado interesse por nós
desde que lhe dissemos que fomos promovidos e que agora temos um novo estatuto no banco?
Provavelmente, pensamos o mesmo que Zé: Que se lixe. Desde que ela me queira na sua cama
por muitas mais vezes, o que é que me interessa o motivo? Também não vou casar com ela,
portanto...
O apartamento de Cátia parecia um quadro de Roy Lichtenstein, cheio de almofadinhas de
cores alegres, pinturas a imitar banda desenhada, uma mesa com cadeiras metálicas e latas de
Coca-Cola de plástico como bibelots. Era um T0 de gosto duvidoso, para não dizer inenarrável.
Havia um cadeirão de dois lugares em palhinha e grossas almofadas amarelas e laranja, onde
Cátia se deitou de costas, com um pezinho no chão e outro em cima do cadeirão, abrindo
sugestivamente as pernas debaixo de uma saia de pregas que lhe dava pelos joelhos. Parecia
uma colegial a rebentar de sensualidade. Usava camisa branca de algodão e, quando se deitou e
o puxou suavemente pela gravata para cima dela, Zé descobriu-lhe um soutien acetinado com
renda onde quis encaixar a mão antes mesmo de a beijar nos lábios. A boca dela abriu-se para
receber a língua dele e as suas pernas envolveram-no com facilidade por serem compridas e
finas. O cadeirão de palhinha vacilou perigosamente às primeiras investidas de Zé. O seu
casaco amachucado jazia no tapete com outros destroços de guerra, como as cuecas dela e a
gravata dele, mas Zé ainda estava preso pelas calças abaixo dos joelhos e teve de rolar pelo
chão quando as pernas do cadeirão cederam, atirando-os ao tapete num divertido naufrágio em
terra seca. Deitado de costas, a lutar com as calças, estrebuchando como uma barata moribunda,
Zé encolheu os joelhos para se desembaraçar dos sapatos e do resto da roupa. Depois foram os
dois numa risota pegada, gatinhando até à cama para acabarem numa festa de lençóis o que
haviam começado no elevador, à chegada, onde Cátia lhe abriu o fecho das calças, enfiou uma
mão atrevida e foi à pesca com uma surpreendente habilidade de pescadora experiente.
Duas horas mais tarde, Zé ia ao volante do seu novo Mercedes de serviço e não cabia em si
de contente. Ia a caminho de casa a guiar o carro do seu antecessor, absolutamente contagiado
por um misto de excitação, alegria, orgulho e vitória, que o levou a soltar em voz alta aquilo que
lhe ia na alma: «Já está! Esta já cá canta! Ah! Ah!», gritou Zé. «Iiiiaaaahhhh!!!!» Deu
gargalhadinhas estridentes e exaltou-se como um guerreiro a saborear a vitória. Tinha sido um
dia glorioso, disso não havia dúvida. Um dia como poucos. Tinham-lhe dado um gabinete novo,
um carro novo, um ordenado melhor e «ainda por cima, fui para a cama com a Bellucci!!! A
mulher mais bonita do banco»! Podia haver melhor do que isto? «Nããã...»
Era bom que se dissesse que Zé não estava arrependido nem um bocadinho de se ter