envolvido com Cátia. Ela estava obviamente inserida no sector recreativo e estanque da vida
dele e as duas horas que passara com ela não tinham qualquer significado. Quer dizer, algum
significado tinham, mas nada de decisivo, na medida em que não se tratava propriamente de uma
paixão avassaladora que pudesse virar-lhe a vida do avesso.
Embora Zé ainda não tivesse tido tempo nem vontade para se dar ao trabalho de pensar
naquilo em que se estava a meter, parecia-lhe claro que nada daquilo era sério. Ir para a cama
com a Bellucci era um acontecimento que ficaria bem no currículo de qualquer homem, algo que
alimentava o ego até à medula. Mas daí a querê-la como amante ou algo assim complicado...
Isso estava fora de questão.
Ao chegar a casa às onze da noite e constatar que havia uma pequena celebração à espera
dele, ao ver Graça sentada no sofá a assistir à novela com um jantar caprichado já frio e metido
no forno, e ao reparar numa mesa bem posta com velas e tudo, e uma garrafa de champanhe
enfiada num balde com o gelo derretido, Zé não pôde deixar de ficar abalado por um pequenino
sentimento de culpa, agravado pelo facto de Graça se revelar compreensiva e não o censurar
por chegar tarde.
— Foi um dia complicado — desculpou-se.
— Imagino — disse ela.
Não imaginas, não , pensou ele.
— Tive de deitar o Quico, porque já era tarde.
— Fizeste bem.
Foi um jantar em tons de amor, a sós, à luz das velas, musiquinha e tudo. Zé contou-lhe todos
os pormenores sobre a promoção e o aumento, e alongaram-se a fantasiar sobre uma vida
melhor. Mais tarde, Zé demorou-se uns minutos no quarto de Quico para dar um beijo ao filho
adormecido e foi-se deitar. Nessa noite, Graça quis fazer amor, mas, quando voltou da casa de
banho, Zé tinha caído irremediavelmente no sono.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1