Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

longa lista de oportunidades perdidas por causa do medo de fazer figura de parvo, esta era só
mais uma.
Felizmente ainda havia a Bellucci para contrariar esta maldição, se bem que o caso da
Bellucci não fosse exactamente um exemplo de grande audácia. Afinal de contas, ele não fizera
nada, limitara-se a ficar sentado enquanto ela fazia tudo. Fora como se ela tivesse escrito na
testa: «Pronta a comer.» Era assim que Zé via as coisas, tal como elas se haviam passado.
Se estava ali sentado numa estúpida bicicleta a pedalar quilómetros sem sair do mesmo lugar
era porque não se sentia muito seguro de si. Quem é que se interessaria por um tipo casado, com
uma barriga de cerveja? Ninguém. Era verdade que a Bellucci contrariava esta ideia, mas, em
primeiro lugar, ele próprio não conseguia entender o que é que ela tinha visto nele e, em
segundo lugar, Zé jamais teria dado um passo para a seduzir se ela não tivesse tomado a
iniciativa de o fazer avançar.
Hoje em dia, Zé não se tinha em grande consideração, de tal modo que ainda lhe custava a
acreditar que uma mulher tão especial como Cátia se tivesse interessado por ele.
A rapariga do lado deixou de pedalar e foi-se embora. Que desperdício , pensou, desolado,
voltaste a desiludir-me, Zé. Os seus olhos começaram logo a procurar outro alvo hipotético,
mas sem grande convicção.
Se Graça soubesse que ele passava a vida em estado de alerta, esquadrinhando os ambientes
com os olhos à procura de mulheres bonitas, no mínimo ficaria escandalizada. Talvez pensasse
que havia algo de errado com ela, coitadinha, ou que o casamento deles não corria bem ou, em
última instância, que estava casada com um tarado. Mas Zé não pensava nada disso. Zé gostava
de Graça, não achava que houvesse algum problema em especial com o casamento deles — a
não ser, enfim, aquele que o levava ao ginásio — e, definitivamente, não achava que fosse um
tarado, apenas que era um homem e que os homens eram mesmo assim. Na maior parte das
vezes inofensivos. Os homens eram caçadores por natureza, fazia parte da sua programação
biológica desistir de atravessar uma estrada para ir atrás de um rabo no lado de cá da rua e
segui-lo durante uns metros até desaparecer. Os homens sentiam dificuldade em concentrar-se
nos olhos de uma mulher se ela se apresentasse com um decote generoso e, especialmente, se
tivesse deixado o soutien em casa. Os homens quase tinham acidentes de automóvel por se
distraírem com um par de pernas no passeio ou com uma linda loura no carro ao lado. Essas
coisas aconteciam mesmo, não eram fantasias dos filmes, Zé sabia-o por experiência própria e
encarava esta realidade com toda a naturalidade. Não se torturava por ser assim, só gostava era
de saber «porque é que não as podemos ter todas, porquê?!»
Cruzou-se com a rapariga da bicicleta à saída do balneário, seguiram juntos até à rua e Zé
voltou a sorrir-lhe enquanto segurava a porta para que ela passasse. Houve um momento
mágico, uma pausa maior do que seria necessário, em que ela parou deliberadamente para olhar
para ele e agradecer-lhe com um sorriso insinuante. «Obrigada», disse, e só depois passou pela
porta e continuou a andar. Foi claramente uma deixa, um incentivo, mas Zé não arranjou melhor
que uma resposta educada. «Nada», disse. Nada? Nada?!!! Disseste nada, Zé? Mas será
possível que não consigas dizer qualquer coisinha melhor do que
«nada» ?!!!
Fechou os olhos, por momentos, e depois ficou parado à porta enquanto a rapariga se

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