DEZ
Entrar no ginásio pela primeira vez revelou-se uma experiência algo intimidante. Apresentar-
se a um monitor com o aspecto de um Sylvester Stallone pachorrento, deixou Zé de rastos antes
mesmo de fazer qualquer exercício. Era óbvio que teria de passar anos a correr no tapete, a
pedalar na bicicleta e a fazer exercícios nas máquinas de musculação até ganhar um corpo
decente. E, evidentemente, nunca conseguiria ser mais do que uma pálida sombra daquele tipo.
O monitor sorria-lhe com uma simpatia profissional e, enquanto lhe explicava como se
ajustavam as máquinas, Zé pensou que ele era uma espécie de anúncio ao vivo do que se vendia
ali: «Venha fazer exercício connosco e ficará como eu.» Mas claro, os anúncios eram sempre a
versão optimista que nos levava ao engano. Para se sentir melhor, Zé imaginou que o monitor
teria, no mínimo, menos dez anos do que ele e, muito provavelmente, já havia nascido com
músculos de Popeye.
Escolheu a bicicleta para começar. Foi pedalar ao lado de uma rapariga belíssima de calções
curtinhos e justos e de camisola suada. E não, não foi uma escolha ao acaso. Dirigiu-lhe um
sorriso e ela fez o mesmo por cortesia e mais nada. Zé pensou que, se por hipótese, quisesse
levar alguma coisa da rapariga do lado, teria de pedalar muito mais. Ou estaria ele à espera de
que um simples sorriso inocente fosse suficiente para que ela lhe saltasse para o colo? Isso é
que era bom.
O grande equívoco nas relações com as mulheres (no seu caso, pelo menos) tinha tudo que ver
com momentos como este. Ele aproximava-se, esboçava um sorriso, ela correspondia-lhe e
depois não passavam disto. Tinha a sensação de que poderia ficar ali o resto do dia a pedalar e
mesmo assim não conseguiria arranjar qualquer coisa inteligente para lhe dizer. Eventualmente
(muito eventualmente), ela estaria a lançar-lhe mensagens telepáticas para dizer: «vá lá, vem
falar comigo, por favor», que ele não conseguia captar.
Passar-se-ia o mesmo com os outros homens? Por certo que sim, preferia pensar que sim.
Poderia haver um ou outro que chegasse e disparasse logo de rajada: «Olá, então isto é difícil?
A bicicleta, quero dizer. E você, como é que se chama? Eu chamo-me fulano de tal. Vem cá
muitas vezes? Eu estou a começar, quero ver se deito abaixo uns quilos. Passo a vida a
trabalhar, sabe como é, mas agora vai ser uma horita de ginásio todos os dias. E você, o que é
que faz? Trabalha?» E depois a conversa seguiria o seu rumo natural. Mas Zé não, Zé não fazia
ideia do que haveria de dizer. Fazia ideia do que é que outro tipo qualquer diria, mas ele ficava
paralisado porque achava sempre que iria fazer figura de parvo. E não havia nada mais
intimidante do que o medo de fazer figura de parvo. Mais valia ficar calado.
Hoje não levaria nada dali, porque ela não iria fazer o trabalho dele. Era a ele que competia
meter conversa, insinuar-se, arriscar uma aproximação e, eventualmente, engolir em seco se ela
não estivesse interessada. Caso contrário... ora, que se lixasse. Seria capaz de elaborar uma