ONZE
Ligou a Cátia do carro. Havia prometido a si mesmo que não voltaria a envolver-se com
Cátia. Uma coisa era uma queca de uma noite sem importância nenhuma, outra completamente
diferente era várias quecas por semana e mais um jantar aqui e uma noite de copos ali e depois,
quando desse por isso, já estaria a inventar fins-de-semana de trabalho para ir para fora com a
amante. Uma amante implicava compromissos, responsabilidades, lembrar-se da data de anos
dela, ter uma segunda escova de dentes numa segunda casa de banho, mentir a toda a hora para
arranjar encontros furtivos, enfim, uma vida dupla. Zé não queria nada disso. E sobretudo não
queria pôr o seu casamento em perigo. Mas, tal como um viciado, encontrou facilmente um
pretexto para justificar a si próprio porque é que precisava de a ver naquela noite.
— Porque é que me ligaste hoje? — perguntou Cátia assim que lhe abriu a porta.
— Porque tive saudades tuas — disse Zé. Porque sou incapaz de dizer mais do que « nada »,
a uma miúda que perde um segundo da sua vida para me olhar nos olhos e dizer « obrigada »
como se estivesse a dizer «gostava de te conhecer» , pensou.
— Zé — disse —, já pensaste um bocadinho nisto... quer dizer, em nós dois?
Mau, mau, mau, agora já não era uma simples queca de uma noite, já era «nós dois». Eu bem
te disse, Zé.
— Como assim? — fez-se de parvo.
— Zé, noutro dia estivemos juntos e foi bom, mas no dia seguinte nem quiseste falar comigo
ou almoçar...
— Estava cheio de trabalho, Cátia. Eu disse-te.
— Nem tiveste tempo para responder a uma mensagem de computador?!
— Eu ia responder, só que tu ligaste entretanto.
— Tudo bem, Zé, nós não somos casados e tu não tens de me dar satisfações. Eu só quero
perceber as tuas intenções, mais nada, só isso.
— Eu — disse, como um miúdo comprometido — quis ver-te.
Cátia ficou à espera de que ele dissesse mais qualquer coisa, mas Zé encolheu os ombros. Ela
viu o seu embaraço e sentiu-se desarmada.
— Anda cá — disse. E puxou-o para os seus braços.
Zé pensou, um bocado irritado, que odiava quando elas começavam com aquelas cenas
maternais, mas ela cheirava bem e estavam abraçados e ele começou a beijar-lhe o pescoço e a
orelha e as suas línguas encontraram-se enquanto a mão dele descia para o rabo dela e lhe
puxava a saia para cima e, claro, a irritação passou-lhe num instante.
Caíram na cama e Zé mergulhou de nariz no decote dela. Cátia desembaraçou-se rapidamente
da roupa com a certeza de que, se não o fizesse, ele arranjaria uma forma de lhe entrar para
dentro da camisa. Zé quase se esganou a puxar a gravata sem desfazer o nó e tentou tirar as