Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

DOZE


— Bom dia, doutor.
— Bom dia, Lisete.
— Café?
— Se faz favor.
— Tem uma encomenda em cima da sua mesa.
— Uma encomenda?
— Sim — confirmou a secretária. — Vieram entregá-la há pouco.
Era um embrulho comprido, com um laço. Um presente. Zé consultou o papel da empresa de
estafetas. Não mencionava o remetente. Abriu a caixa e descobriu a sua gravata cuidadosamente
embrulhada em papel celofane. Havia um bilhete:
«Espero que não te tenha feito falta. Liga-me. C.»
Zé ficou impressionado. Quem é que conseguia desencantar uma empresa de estafetas antes
das nove da manhã para fazer uma entrega? E quem é que se dava ao trabalho de o fazer quando
podia simplesmente entregar-lhe a gravata mais tarde no banco? Cátia sabia fazer as coisas, não
havia dúvida. Não era a burra de saias que — como Zé muito bem sabia — alguns invejosos no
banco diziam que era. Isso assustou-o um pouco. Teria preferido que o fosse? Honestamente?
Talvez. Uma mulher bonita mas pouco inteligente seria mais, digamos, descartável. Não é que
Zé olhasse para as mulheres como coisas descartáveis, ou que pensasse que uma rapariga menos
inteligente tivesse menos sentimentos e merecesse menos respeito. Mas, mais tarde ou mais
cedo — e quanto mais cedo melhor — ele teria de acabar com aquela relação e, a verdade é
que lhe custaria muito menos se se tratasse de uma estúpida de que ele não gostasse
particularmente.
— Como é que conseguiste? — perguntou-lhe ao telefone.
— Como é que consegui o quê?
— Arranjar um estafeta tão cedo.
— Eu tenho os meus contactos, sabes?
— Ah, tens?
— Tenho.
— Foi bonito.
— Obrigada.
— Obrigado, eu.
— Podemos ver-nos hoje?
— Não vai dar. Tenho um almoço combinado.
— És um homem muito ocupado.
— Não sou nada. Vou almoçar com uns amigos. É uma coisa que já estava combinada.

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