— Please.
— Não, não posso pensar em jantar contigo. Aliás, se queres saber, já tenho um jantar
combinado para essa noite.
— Tens?
— Tenho.
Zé ficou subitamente sem pinga de sangue, sem palavras, sem equilíbrio. Por causa dos nervos
e porque falava ao telemóvel, percorrera incessantemente o seu gabinete, de parede a parede,
nos últimos minutos, mas agora teve de se sentar. As pernas começaram a tremer-lhe e abateu-se
pesadamente na sua cadeira como uma árvore acabada de cortar. Madeira! Teve Graça vontade
de gritar, ao ouvir os efeitos devastadores das suas palavras. A vingança não era bonita, mas
fazia-lhe bem.
— Com quem? — conseguiu ele perguntar.
— Com quem, o quê?
— Com quem é que vais jantar?
— Com um amigo.
— Qual amigo?!
— Baixa a voz.
— Qual amigo?
— Não tens nada com isso.
— Não tenho nada com isso? Tenho tudo que ver com isso.
— Não, não tens. E agora vou desligar porque tenho de trabalhar.
Zé telefonou-lhe novamente dali a uma hora e meia.
— Podemos falar sobre isto?
— Zé, estava de saída, estou cansada e tenho de ir buscar o Quico.
— Tudo bem. Eu ligo-te mais logo para casa.
— Não.
— Não queres falar comigo?
— Eu falo mais contigo agora do que falava antes de nos separarmos.
— Então, ligo-te à noite, adeus.
E desligou depressa, antes que Graça tivesse oportunidade de dizer qualquer coisa.
À noite Graça usou a mesma táctica. Chamou Quico ao telefone antes de Zé começar a fazer-
lhe perguntas. Depois voltou ao telefone.
— Se quiseres, podes vir buscar o Quico para jantar no dia dos teus anos.
— E tu?
— Eu já te disse o que tinha a dizer sobre esse assunto. Então, vens buscá-lo?
— Vou.
— Óptimo.
— Ele pode dormir em tua casa e, de manhã, leva-lo ao colégio.
— Por acaso não estás a dizer que vais jantar com um amigo só para me chatear?
— Tu... — Ficou tão indignada que lhe falharam as palavras. — Estúpido!
Desligou-lhe o telefone na cara.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1