O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

Laurinda arranjou um emprego na Câmara Municipal, o que até calhava
bem porque era muito perto de Regina, da casa dela, da loja, e almoçavam
juntas ou encontravam-se para um café. Não era nada de importante, dizia ela,
descontraída, sem ambições, burocracia, menina, um monte de papelada, um
trabalho para pagar as contas, que começaram a acumular-se antes mesmo do
divórcio, porque, sabes, o playboy não ganhava, só gastava. Não voltou a
casar-se. Teve os seus romances, tinha sempre alguém, aliás, pois detestava a
solidão, mas eram namorados sem importância, nenhuma relação duradoura.
Vou gozar a vida, anunciou à amiga, chega de trapalhadas, por enquanto,
depois se vê. Regina concordou com a opção, ou melhor dizendo, ouviu e
calou, não opinou se fazia bem ou mal. O que é que ela sabia, o que é que lhe
poderia dizer para além de constatar que a beleza estonteante de Laurinda lhe
dava a certeza de que nunca ficaria sozinha, mas não lhe garantia a
felicidade?

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