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Nuno avançou pela multidão barulhenta de crianças alegres que corria para
os pais ao final da tarde. Descobriu André, sozinho, sentado num banco
comprido, encostado à parede do pátio interior do colégio. Foi até junto dele e
agachou-se à sua frente.
— Olá, filho.
— Olá, pai.
André não reagiu com a manifestação de alegria que Nuno esperava dele ao
ver que era o pai que o vinha buscar. Em contrapartida, estendeu os seus
bracinhos pequenos e agarrou-se ao pescoço dele com uma sentida saudade,
que deixou Nuno com um nó na garganta. Pareceu-lhe triste.
— Está tudo bem, André?
Ele encolheu os ombros e respondeu que sim com um assentimento de
cabeça.
— Porque é que estás aqui sentado sozinho?
— Estava à espera da mãe.
— A mãe está em casa à nossa espera — disse. — Vamos?
— Vamos.
André saltou do banco. Nuno agarrou na mochila dele e levou-o pela mão.
Ao contrário de Nuno nos seus tempos de escola, André não era um miúdo
popular entre os colegas, não se evidenciava, não era muito sociável. Mas tal
como o pai, dava a impressão de ser perseguido pelo espectro da solidão, só
que reagia de forma diferente. Essa súbita descoberta perturbou Nuno, fê-lo
sentir-se culpado. Talvez fosse apenas um traço do carácter dele, pensou, ou
talvez fosse resultado da convivência tranquila com os pais e de não ter
irmãos. Tanto podia ser simplesmente uma alma tímida, como uma criança
afectada pela complexidade do universo dos adultos, o qual tivesse
dificuldade em compreender e o trouxesse num estado de confusão, numa
inquietação, que se reflectisse na sua maneira de ser. A sensação de Nuno foi
que André se retraía, se vergava — melhor dizendo — ao peso insustentável
de alguma responsabilidade, porventura injusta para a sua idade. Ao vê-lo
hoje, triste, sentido e carente, Nuno reconheceu de imediato a atitude do filho,