— É o que costuma acontecer.
— Sim, mas eu pensei que ele ficasse feliz por me ver.
— E não ficou?
— Ficou, acho que sim. Bem, não fez nenhuma festa nem nada do género.
Sabes o que ele fez?
— O quê?
— Abraçou-se a mim.
— Então? Estava feliz por te ver.
— Não, quer dizer, talvez, mas feliz não é a palavra certa. Eu acho que ele
estava aliviado por me ver. E foi isso que me impressionou. Regina ergueu a
cabeça, fixou-se no filho dobrado sobre a construção de areia em que laborava
afincadamente.
— Ele está sempre a perguntar por ti — disse, com uma ruga apreensiva a
vincar-lhe a testa.
— Regina... — fez uma pausa, como que a ponderar as palavras que
melhor transmitissem o seu pensamento. — Tu sabes que eu o adoro e que
não estou fora tanto tempo por ele me ser indiferente. É o meu trabalho, só
isso.
— Eu sei — respondeu ela, mas acrescentou que isso não impedia que
André tivesse dúvidas quanto ao amor do pai. Contou-lhe, com a voz
embargada de comoção, uma pergunta recente do filho que a deixara
estarrecida e a fizera chorar baixinho pela noite dentro, de olhos abertos na
cama, perplexa numa insónia angustiada.
— Mãe.
— Sim, filho.
— É por minha causa que o pai nunca está em casa?
— Disparate! O pai não está em casa porque tem de trabalhar. Ele gosta
muito de ti, percebes? Tu és a pessoa mais importante da vida dele. Nunca
mais voltes a pensar uma coisa dessas.
— Está bem... Mãe?
— Sim, filho.
— Posso dormir contigo esta noite?