trataram de saber do seu paradeiro. Coube a Patrício — que, para azar seu,
estava de serviço — ser apertado pela ponta das armas.
— Onde é que está esse filho-da-puta? — perguntou-lhe o dirigente.
— Quem? — espantou-se Patrício, disposto a dar-lhe cinco minutos de luta.
Não mais, porque em Luanda morria-se por dá cá aquela palha e não valia a
pena esticar a corda demasiado. Só um bocadinho, para não ficar mal visto
perante os camaradas de redacção.
— Não te faças de parvo — rosnou o outro —, ou apago-te assim — fez
estalar os dedos.
— Eu estou de serviço, não sei, o chefe acabou o turno, foi para casa, não
sei.
Apanharam-no em casa, de facto. Deitaram-lhe a porta abaixo, meteram-no
à força no jipe e só o devolveram muitas horas depois e em muito mau estado,
devido à intervenção da parte portuguesa. Entretanto, Patrício e os camaradas
de redacção retaliaram com uma greve de protesto.
Naquela manhã, juntou-se uma multidão na Avenida Álvaro Ferreira, que
ligava o Hospital Central de Luanda ao Largo D. Afonso Henriques. Militares
e polícias negros realizavam uma manifestação de protesto contra a violência
que assolava os musseques e atingia as suas famílias. Reclamavam o direito
de serem eles a patrulhar e a garantir a segurança nos bairros negros. Estando
embora alistados no exército e na Polícia portuguesa, consideravam que nem
um nem a outra faziam o suficiente para acabar com a situação que vitimava
as suas famílias.
Patrício andava por ali na expectativa, com o seu gravador a tiracolo. A
meio da manhã a manifestação engrossara com milhares de pessoas a gritarem
palavras de ordem contra a violência que lhes entrava pela casa adentro.
Patrício sabia que havia agentes provocadores dos três movimentos de
libertação infiltrados na manifestação. Eram os agitadores do costume, já
reconhecera vários, aliás. Mas não tencionava dizer uma palavra sobre isso na
sua notícia. Preferia esperar para ver como acabava a manhã. A avaliar pela
presença discreta do MPLA, FNLA e UNITA, todos responsáveis, em maior
ou menor grau, pela violência que motivava aquele protesto popular, Patrício
não se admiraria se a manifestação perdesse o norte, fosse desviada do
objectivo inicial, acabasse por ser apenas um protesto enfurecido contra os
portugueses. Eventualmente, com os ânimos bem aquecidos, os agitadores
arrastariam mesmo a populaça até ao Palácio do Governo, onde incitariam as