O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

cara sugerindo até um certo desprezo, convidou as amigas a irem-se embora,
afastou-se com elas sem se voltar para trás.


Na noite seguinte ele surpreendeu Regina. Foi ter com ela, prostrou-se ao
seu lado, junto à mesa onde se sentava com as amigas, de modo a ser-lhe
impossível desviar a cara e ignorá-lo. Chegou-se, dobrou-se, apoiando uma
mão no braço da cadeira dela, a outra no braço da cadeira da amiga, fez cara
alegre, apresentou-se.


— Sou o Nuno — anunciou.
— Ah, sim? — respondeu Regina, desconcertada, mas não se dando por
achada. — E o que é que eu tenho a ver com isso? — Ele sorriu abertamente,
divertido com os ares superiores dela, sem os levar a sério.


— Tens tudo a ver com isso, porque eu vou oferecer-te uma bebida e, se
não vieres comigo ao balcão, ponho-me aqui de joelhos a suplicar-te em voz
alta e passas a maior vergonha da tua vida. — E depois fez o ar mais sério
possível e abanou a cabeça a dizer que sim, de lábios crispados, como que
reforçando a inevitabilidade da proposta.


Fez-se um silêncio à mesa. As amigas interromperam as conversas,
justificadamente, pendentes da resposta de Regina, que por fim deixou cair a
máscara da intolerância, sorriu como uma mãe que não aguenta a expressão
séria ao repreender um filho impertinente, levantou-se, foi com ele.


Entraram no apartamento de Nuno, ela à frente, ele abraçando-a por trás.
Passou as mãos por baixo dos braços de Regina e envolveu-lhe os seios com
firmeza. Puxou-a de costas contra o seu peito, ao mesmo tempo que fechava a
porta com o calcanhar. Regina empurrou-o contra a porta. Nuno afundou o
rosto no cabelo dela, no pescoço dela, sentindo o aroma fresco do perfume de
Regina perpetuado na sua pele macia. Ela virou o rosto para lhe oferecer os
lábios e beijaram-se com a urgência que vinha de uma noite inteira a
perspectivarem esse momento.


A entrada dava para uma sala exígua, com uma decoração pobre, contígua
ao quarto, e era tudo, nada de muito sofisticado ou tão espampanante quanto
ele e a sua moto. Mas isso Regina não viu logo, pois não acenderam a luz. Ela
voltou-se de frente para ele, saltou-lhe para o colo, quase desequilibrando-o,
envolveu-lhe a cintura com as suas longas pernas desnudadas debaixo de uma
minissaia que, como sabia muito bem, davam a volta à cabeça a um homem

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