sozinha. Patrício insistira em levá-la a casa, mas Regina recusara a boa
vontade do amigo. Em vez disso, dirigira-se ao colégio de André, onde
irrompera pela sala de aula e resgatara o filho de um início de tarde tranquilo
para o levar para casa. Queria-o ter consigo, precisava dele ao seu lado,
debaixo da sua asa, para não morrer de preocupação.
Até agora, Regina tinha sido forte, tinha aguentado tudo o que havia para
aguentar, dizia a si própria que ainda era possível viver em Luanda, que Nuno
sabia o que estava a fazer para acautelar o futuro deles. Era preciso dar-lhe
tempo para acertar as coisas, conseguir algum dinheiro. Apesar de tudo,
reconhecia, ele tinha razão, não fazia sentido precipitarem-se. Quanto mais
não fosse, Nuno poderia tentar vender o avião.
Já tinham passado seis anos, mas Regina recusava a ideia de regressar a
Lisboa derrotada, de se ver obrigada a pedir ajuda ao pai. Não obstante ela
estar longe há muito tempo e de ter conquistado a sua independência, a
relação com o pai não melhorara muito. A única diferença era ela já não se
sentir revoltada com ele. Mas nos últimos anos mal se falavam, limitavam-se
a trocar algumas palavras, ocasionalmente, ao telefone. Regina achava que o
pai nunca lhe perdoara a forma como ela partira, contra a sua vontade,
ignorando a sua proibição. Com André era diferente. Regina conversava
muito com a mãe, contava-lhe os pormenores do neto que ela nunca vira,
punha-os a falar ao telefone e, na maior parte das vezes, o pai também vinha
dar-lhe uma palavrinha. Adoravam o neto à distância e custava-lhes muito só
o conhecerem pelas fotografias que Regina lhes enviava, de não o verem
crescer. E, no entanto, o pai nunca cedera aos convites de Regina para que os
fossem visitar a Luanda. Ela que os fosse ver a Lisboa, respondia sempre o
pai, ou mandava dizer pela mulher. E a mãe, já se sabia, só fazia o que ele
dizia e também não ia. Regina não se melindrava com isto, não conseguia
ficar zangada e, de certo modo, até compreendia. Podia não se dar bem com o
pai, mas era o seu pai e gostava dele, tal como, estava certa, ele gostava dela.
O tempo e a distância tinham-na ajudado a pensar no pai de forma diferente,
sem suavizar a sua irascibilidade, a sua intolerância endémica, mas
reconhecendo-lhe virtudes indesmentíveis que no passado não fora capaz de
ver. Era um homem de princípios rígidos, honesto e, embora não o soubesse
demonstrar muito bem, só queria o melhor para ela. Regina percebia agora
que o pai costumava despejar sobre ela uma pressão permanente porque se
preocupava, e essa preocupação reflectia-se em censuras constantes, que
muitas vezes chegavam a explosões de ansiedade. Verdade seja dita, na época,
Regina estava longe de ser uma rapariga exemplar, tinha o seu feitiozinho
difícil, uma personalidade capaz de desesperar qualquer um, e não era,