— Claro que sim. — Confiava em Regina, evidentemente, mas preferia que
ela não soubesse. Paciência, resignou-se. Explicou-lhe o que iria fazer.
— Vais levar armas à UNITA... — repetiu ela, a pesar a gravidade do
assunto.
— Vou — confirmou Nuno. — Não acredito que mude alguma coisa, mas
— encolheu os ombros — que se lixe. Vão pagar-me em diamantes, quero lá
saber.
— Por acaso, não preferes atirar-te dali abaixo e resolves já a questão? —
perguntou ela. E estava a ser sarcástica, a apontar para a janela.
— Regina — protestou Nuno. — Não vês que é a única forma de garantir o
nosso futuro?
— Não, não é. Nuno, por favor, vamo-nos embora. Esquece isso, não vale a
pena, nós haveremos de arranjar uma solução.
Ele abanou a cabeça. Era a sua vez de dizer que não. Nem pensar, disse, não
se ia atirar dali abaixo mas também não iria atirar uma oportunidade daquelas
pela janela. Regina queria partir para Lisboa, óptimo, mas ele ficava. Iria ter
com ela mais tarde, depois de entregar as armas e receber os diamantes.
— Faz o que tu quiseres — acabou ela por dizer. — Sempre foi assim, não
foi? O que é que te interessa a minha opinião...
— Não é só por mim — retorquiu Nuno. — É pelos três. E uma coisa te
garanto: não volto para Lisboa com uma mão à frente e outra atrás.
As malas ficaram feitas, à porta, prontas para serem expedidas, mas
haveriam de esperar mais uma semana, até Nuno conseguir dois bilhetes de
avião em primeira classe, graças aos bons ofícios do incontornável senhor
Dantas.
Nuno levou-os ao aeroporto numa terça-feira à noite. Atravessaram o
recolher obrigatório pouco antes da meia-noite, estranhando o vazio desolador
das ruas desertas, o silêncio inquietante da cidade fantasma. Os ocasionais
postos de controlo do exército, colocados nos cruzamentos chave, eram a
única prova de que os habitantes da cidade de asfalto ainda por lá andavam.
Três ou quatro soldados encostados a um jipe descapotável, a fumar uma
cigarrada, entretidos com uma conversa da treta e falsamente descontraídos,
com a G-3 a mover-se como um prolongamento do braço, porque os
imprevistos sombrios que custavam vidas aconteciam quando um gajo