Nuno quis esperar para se certificar de que eles partiam em segurança e, ao
aperceber-se de que o avião se mantinha indefinidamente na placa de
estacionamento, foi ao balcão da TAP perguntar o que se passava. Um
funcionário que não dormia há meses conseguiu arranjar um sorriso
profissional para lhe explicar sem dramas que ali ao lado, no Bairro do Golfe,
havia guerrilheiros com morteiros apontados à pista e, portanto, as partidas
estavam suspensas até nova ordem. Nesse caso, espantou-se Nuno, com o
coração parado, porque não traziam os passageiros de volta à sala de
embarque? Porque, respondeu o funcionário exausto mas sem desarmar na
simpatia, aguardavam-se ordens. De qualquer modo, acrescentou,
apaziguador, não havia motivo para alarme, pois evacuariam o avião ao
menor sinal de perigo. Isso dizes tu, pensou Nuno, a morrer de preocupação.
No avião, Regina procurava manter-se serena, esforçava-se para controlar o
medo asfixiante e não se deixar arrastar pelo pânico para o buraco negro das
emoções descontroladas, onde se sentia prestes a cair. Os passageiros,
obedecendo às instruções da tripulação, aguardavam sentados e calados. Um
silêncio sepulcral pairava na atmosfera quente e húmida. O ar condicionado
havia sido desligado, o que aumentava o desconforto e não ajudava a
conservar a calma no interior do aparelho. As hospedeiras deslizavam pelos
corredores sem emitirem um ruído, incansáveis, distribuindo copos de água e
palavras reconfortantes, sossegando os mais assustados com um sorriso
confiante. A tensão sentia-se no ar e via-se nos rostos crispados das pessoas.
Regina evitou olhar para os outros e concentrou-se no filho. André
adormecera, finalmente, batido pelo cansaço, depois de ter ensaiado levantar a
cobertura da sua janela para espreitar lá para fora, o que lhe valeu uma
reprimenda um pouco histérica de uma passageira da fila da frente. Na sua
inocência, ele não percebeu a razão para tanta excitação, mas resignou-se à
ordem da mãe para que não voltasse a mexer na janela. André perguntou
porque não partiam e Regina inventou uma avaria imprevista. Demoraria só
um bocadinho a reparar, disse-lhe, e depois André adormeceu.
Entretanto, o Comando Operacional de Luanda, responsável pela segurança
da cidade, improvisou uma operação militar e enviou os pára-quedistas, que
entraram em força no musseque do Golfe e seguiram na pista da ameaça por
entre os labirintos de lata, pelas ruas de terra, percorrendo-as uma a uma,
embrenhando-se no interior sombrio do bairro, fazendo uma batida
sistemática até o atravessarem de uma ponta à outra e garantirem que tinham