soldados afastaram-se e o capitão veio cumprimentá-lo com um aperto de
mão rijo. — Estava a ver que não te encontrava, homem!
— Vão-se embora? — espantou-se Nuno, reparando ao mesmo tempo que
Antero trocara o bigodinho discreto por uma barba farta, à revolucionário ,
pensou. Embora, na sua opinião, continuasse a ser o mesmo palerma de
sempre, baixote, sem garbo, metido num uniforme que não honrava.
— Vamos — disse dona Natércia, numa voz pesarosa —, infelizmente.
— Vão — disse Antero. — Vou levá-los ao aeroporto.
— O meu filho acha que já não podemos continuar cá — queixou-se ela.
— E não podem — confirmou o filho. — Mãe, já falámos disso, os pais vão
ficar muito melhor em Lisboa.
Dona Natércia encolheu os ombros, amuada, com uma lágrimazinha a
aflorar-lhe o olhinho triste. Antero fez uma expressão de inevitabilidade,
como que a dizer o que é que eu posso fazer?
— Vai ver que vai correr tudo bem — disse Nuno, com paninhos quentes. E
foi dar uma abraço sentido a dona Natércia. — Vai correr tudo bem.
— Corria melhor se pudéssemos ficar — disse ela, inconsolável, na sua
vozinha pueril.
Despediram-se. Antero acomodou-os no jipe com a ajuda dos soldados que
colocaram delicadamente o brigadeiro de cera no banco da frente. O homem
não tugiu nem mugiu. Dir-se-ia que, ao contrário da mulher, tanto se lhe dava
estar ali como em Marte. Depois os soldados saltaram para a Berliet, que
levava a mobília de uma vida, e Antero voltou atrás para dizer uma palavrinha
privada a Nuno.
— Nuno — disse. — Sabes que eu agora estou com a malta do MFA, aqui
em Luanda?
— Não sabia.
— Pois, mas estou. E sabes o que nós pensamos sobre o futuro de Angola?
— Esperou um segundo, Nuno não reagiu, ele continuou. — Pá, isto é para o
MPLA e não há volta a dar.
— E sabes o que eu penso sobre isso?
— Não. O quê?
— Estou-me a cagar para qual dos cabrões fica esta merda toda. — Antero
olhou para as suas botas com um sorriso cínico.