O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

não vamos discutir mais política, okay ? O que interessa, do que eu te queria
avisar, é que a malta do MFA já sabe dos carregamentos de armas para a
UNITA.


— Eu quero que eles se fodam — atirou Nuno, com desprezo. Antero abriu
os braços, desconcertado.


— Então, Nuno... — disse, como que a pedir-lhe bom senso.
— Então, o quê?
— Sabes que eu não me esqueço que me safaste lá em baixo, no Leste, mas
o que tu andas a fazer é perigoso e inútil. Não vai alterar o curso dos
acontecimentos.


— Então, que se lixe — disse Nuno. — Deixa-me ganhar o meu.
— Eu deixo, mas há quem de não deixe. Nuno, os gajos entregam-te ao
MPLA e estás feito. Eu faço o que posso para te defender, mas não penses que
tenho poder para impedir certas coisas.


Deves fazer, deves, pensou Nuno.
— Já entendi o recado — disse. — Vai lá levar os teus pais, que ainda
perdem o avião.


Despediram-se, Antero saltou para o jipe, Nuno acenou um último adeus a
dona Natércia, ficou a vê-los partirem, entrou no prédio. Chegando a casa,
telefonou ao senhor Dantas, acertou com ele um jantar no Hotel Continental
e, em seguida, arrastou-se até ao quarto, deixou-se cair na cama e adormeceu
no mesmo segundo. Nuno estava alarmado com o inesperado aviso de Antero.
O transporte das armas já não lhe parecia tão fácil e isento de perigos como
aparentara a quase bucólica viagem matinal. O MFA sabia o que ele andava a
fazer e as palavras do capitão Antero tinham tanto de aviso como de ameaça.
Ou paras com isso ou acabas morto numa sarjeta. Pois bem, os gajos que se
lixassem porque ele não tencionava parar.

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