— Eu estou — respondeu Nuno. — O meu avião é que não.
— Já sei, já sei. É uma grande contrariedade.
Nuno quase soltou uma gargalhada. Aquele gajo era único, pensou. Uma
grande contrariedade?! Essa era boa.
— É uma enorme contrariedade — disse.
— Sim, realmente, é uma enorme enrascada. Que diabo, eu tentei avisá-lo,
telefonei-lhe para lhe dizer que não fosse, mas já não o apanhei em casa.
— O meu avião explodiu, foi pelos ares! Sabia disso?
— O nosso amigo da cervejaria Biker ligou-me a avisar que iria acontecer
algo do género.
— E o nosso amigo também lhe disse quem foi o pirómano?
— Os camaradas do seu amigo, o capitão?
— Sim...
— Avisaram os aliados deles.
— Ah, bonito — lamentou-se Nuno, a pensar que, se os tipos do MFA o
tinham denunciado ao MPLA, isso queria dizer que... —, então, estou bem
lixado!
— Você está a telefonar-me donde, Nuno?
— De casa.
— Saia já daí. Esse lugar não é seguro.
— É o que eu vou fazer.
— Venha ter comigo — disse o senhor Dantas. — Você sabe onde?
Sei.
Então, venha depressa.
Nuno não perdeu muito tempo. Juntou todo o dinheiro que tinha em casa,
guardou o saquinho com os diamantes da primeira viagem, o passaporte, saiu
a correr. Sentia-se em perigo. Quanto mais os minutos passavam mais se
acentuava aquela aflitiva sensação de estar a um passo da extinção. Bateu a
porta atrás de si, desceu a escada saltando os degraus aos dois e dois e abriu a
porta da rua tão apressado que já não teve tempo de voltar para trás quando
deparou com os quatro enormes soldados negros que iam a entrar. Estavam