convencer-se a si própria. Apagou o cigarro meio fumado no pequeno
cinzeiro encastrado no braço da poltrona, deitando fora o fumo que lhe
restava nos pulmões. — Eu hei-de safar-me.
— Tudo bem — assentiu o comandante. — Você é que sabe da sua vida.
Mas, de qualquer modo, se precisar de boleia no dia três, só tem de aparecer
no aeroporto, que eu meto-a no avião, okay?
— Okay — disse Regina. — Obrigada, mais uma vez, pela boleia e pela
disponibilidade para ajudar.
— Nada, tenho todo o gosto em ajudá-la, no que estiver ao meu alcance. —
Apagou o seu cigarro, levantou-se. — Bom, vou voltar para cima e pousar
este monstro como um passarinho.
Regina sorriu, bem impressionada. Era um tipo convencido, o comandante,
daqueles que transmitiam segurança a uma mulher, o seu género de homem,
pensou, a lembrar-se que Nuno fazia parte da mesma categoria. Ele deu dois
ou três passos no corredor, em direcção à escada para a cabina de pilotagem,
voltou-se.
— Não se esqueça de apertar o cinto de segurança.
— Não me esqueço — respondeu Regina, e ficou ali a penalizar-se por ter
sido injusta com ele, a rever a sua primeira impressão. Na noite passada,
tinha-o achado um estroina, meio petulante meio irresponsável, mas mudou
de opinião. Obviamente, no início da viagem, o comandante, percebendo que
ela se encontrava debaixo de uma enorme tensão, quisera ajudá-la a
descomprimir, aligeirara a conversa para ela se sentir melhor. Mas estava a
par da gravidade da situação de Regina e, hoje, mostrou que também era
responsável, que se preocupava. Um tempo para brincar, um tempo para as
coisas sérias. Afinal, reconsiderou, o cavaleiro andante poderia conduzi-la a
qualquer lado, que não teria receio de andar de avião com ele aos comandos.
Aliás, contava com ele para a levar de volta a Lisboa. Isto era, se não perdesse
a boleia e não ficasse encurralada em Luanda.