O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

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— Está ali a mota do Nuno! — exclamou Regina, numa agitação, ao avistá-
la estacionada à porta do prédio.


— Calma, Regina. Está a mota, mas ele não está.
— Como é que sabes?
— A mota sempre esteve ali. Não te esqueças de que eu já vim cá antes.
Olha — apontou com o queixo —, o teu carro também continua estacionado
ali.


Regina viu o Volkswagen amarelo encostado ao passeio e o seu entusiasmo
esmoreceu instantaneamente. Aquilo não era um bom sinal. Se Nuno se
tivesse ausentado a pé, não teria ido longe. Ora, Patrício já tinha batido as
redondezas, empenhara-se numa busca metódica pelos locais que Nuno
frequentava habitualmente e nada. Há semanas que ninguém lhe punha a vista
em cima. Era como se ele se tivesse evaporado sem explicação. Foi isso que
ele lhe disse ao telefone para Lisboa e o mesmo repetiu quando vinham do
aeroporto. E, no entanto, Regina haveria de regressar a todos esses lugares
nos dias seguintes, não só por não querer ficar parada, mas também na
esperança de conseguir alguma informação que porventura tivesse escapado a
Patrício da primeira vez.


Abriu a porta do jipe.
— Onde é que tu vais? — perguntou Patrício.
Ela olhou-o com espanto.
— Vou lá a casa — respondeu.
— Não podes ficar em casa, Regina.
— Porque não?
— Porque não é seguro.
Ela voltou a recostar-se no banco, a pensar.
— Tudo bem — disse, finalmente —, não fico. Mas tenho de lá ir na
mesma. Quero ver se o Nuno deixou alguma mensagem, e tomar um banho.
Podes vir buscar-me mais tarde?


—   Dou-te  duas    horas.
Regina assentiu com a cabeça.
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