engomados do que o senhor Dantas mas traindo-se pelas gravatas berrantes,
as camisas fibrosas e os sapatos sem categoria nenhuma que sugeriam pouco
chá. O senhor Dantas parecia nadar como peixe nas águas deles.
Nuno entreteve-se com a sua lagosta solitária, tendo como companhia ao
almoço só a vista radiosa da baía, em primeiro plano, e Luanda ao fundo do
quadro, reflectida nos vapores da água do mar, envolvida numa miragem de
calor sufocante que até poderia afligi-lo, não fosse estar a salvo dos excessos
tropicais ali, comodamente sentado no ambiente refrescante do ar
condicionado, bebendo o champanhe que o empregado atento vinha servir,
enterrando depois novamente a garrafa no gelo do balde depositado numa
mesinha de apoio.
Antes de sair, mandou o empregado entregar ao senhor Dantas um cartão-
de-visita rabiscado. Este leu a mensagem, apoiou as mãozinhas papudas nos
braços da cadeira para rodar o corpo quadrado com um movimento
surpreendentemente ligeiro, observou intrigado o dono do cartão, fez-lhe um
sinal de assentimento com um gesto de cabeça e voltou-se novamente para a
frente, regressando à conversa com os seus americanos. O Nuno de agora já
não era o mesmo de Lisboa, que entrava pelos cafés da Avenida de Roma
envergando blusão de cabedal, lenço ao pescoço e botas de motoqueiro.
Trazia um respeitável fato de linho creme e uma camisa de algodão branca
sem vincos nem manchas de suor. Por isso, o empregado do Clube Naval não
se admirou quando viu os dois homens aparecerem para almoçar juntos uns
dias mais tarde.