uma depressão no terreno, atravessando sem dificuldade o riacho onde corria
só um fio de água. Subiu pela outra margem, atingiu o topo e saltou para
terreno plano com as rodas da frente no ar. Engrenou uma mudança, os pneus
agarraram-se ao solo, virou à direita num rumo oblíquo ao riacho, acelerou a
fundo, ganhou velocidade.
Agora, os cordeiros corriam como loucos para fugirem aos perseguidores.
Iam em corta-mato, em direcção ao final da longa curva da estrada, passando
assim a alguma distância da barreira militar. Os soldados não se ficaram, o
comandante saltou para o jipe com mais dois homens e iniciaram a
perseguição. Iam direitos ao jipe em fuga e eram suficientemente loucos para
dispararem um tiro de canhão em movimento, com o carro aos saltos no
terreno irregular, o que fizeram sem qualquer pontaria e sem um resultado
satisfatório. O projéctil foi cair à frente do alvo, mas o estrondo do impacto
no solo, o chuveiro de terra sobre o tejadilho, não deixaram de assustar
Regina e Patrício, ela lívida de medo, agarrando-se como podia para não
soçobrar nos insustentáveis solavancos que a atiravam para fora do banco,
qual touro enfurecido num rodeo ; ele concentrado na condução impossível,
com os dedos enclavinhados no volante. Dava a impressão de que o jipe se
iria desfazer a qualquer momento, mas a chuva de balas que os soldados
atiravam da estrada, que picavam perigosamente a chapa e partiam os vidros
traseiros, não convidavam a levantar o pé do acelerador.
O jipe da tropa foi obrigado a deter-se à beira do riacho, tal como Patrício
previra. Ele tinha reparado que ali a margem era demasiado inclinada e não
permitia a passagem, por isso atirara-se naquela corrida louca para rodear a
morte certa que os esperava na barreira militar. Para continuar a perseguição,
o jipe teria de ir dar a volta e atravessar no mesmo local onde Patrício passara,
ou então regressar à estrada e tomar o caminho mais longo. Em qualquer das
hipóteses, já não os apanhariam. Mas o comandante, enfurecido, optou por
uma terceira alternativa. Disse ao motorista que seguisse ao longo da margem,
mas na direcção da ponte por cima do riacho. A determinada altura o
comandante perdeu a razão e a paciência e decidiu que era mesmo ali que
passavam. Ordenou ao motorista que arriscasse. Este atreveu-se a uma tímida
objecção e levou logo uma violenta chapada na cara e faz o que eu te mando,
seu cabrão, ou levas uma bala nos cabeça para aprender! Em consequência, o
soldado atirou o jipe pela ravina numa precipitação desastrosa e o carro caiu
desamparado e capotou dentro do riacho. O infeliz condutor teve morte
imediata, o soldado da metralhadora e o comandante foram cuspidos. O
primeiro partiu uma perna, o segundo sofreu uma humilhação que não haveria