O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

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Envolvido na cerimónia militar, o capitão Antero não saiu do seu lugar na
formatura quando viu Regina entrar no jipe e este dar meia volta e afastar-se.
Não poderia fazer tal coisa, evidentemente, mas acompanhou os passos dela
pelo canto do olho e permitiu-se um sorriso de satisfação consigo próprio, a
pensar, porra, adoro esta merda! Pensava no seu poder de influência, num
telefonema discreto, numa palavrinha dirigida à pessoa certa e já está! Antero
deixara-se levar por um impulso, um rebate de consciência. Isto acontecera
quando se tornou claro na sua cabeça que a ideia de deixar Nuno para trás e
conquistar Regina não passava de uma fantasia sem sentido. Afinal de contas,
sentia-se desconfortável na presença de Regina porque ela, bem, ela... a
palavra certa era desprezava-o . E Antero pensou que, se não a podia ter, pelo
menos poderia obrigá-la a engolir aqueles seus ares superiores. Fá-la-ia
reconhecer que era a ele que se devia a salvação de Nuno. Cabra estúpida.
Antero guardava-lhe um rancor incontornável, mas não podia esquecer-se de
que Nuno se arriscara uma vez para o livrar de uma situação muito
complicada. Definitivamente, não queria ficar com a sua morte na
consciência, não queria pensar que não fizera tudo o que estava ao seu
alcance para o ajudar.


Na realidade, Antero não fizera grande coisa para ajudar Nuno, mas deu-se
o caso de a oportunidade lhe cair no colo e de ele a aproveitar. Por força da
posição elevada que ocupava no MFA de Angola, Antero tinha acesso e até
participava nas decisões mais importantes. Ora, nos dias finais a questão do
aeroporto tornou-se determinante e foi assim que surgiu a sua oportunidade.


A parte portuguesa decidiu libertar o aeroporto cinco dias antes do prazo,
não só porque a ponte aérea estava concluída e já não precisava dele, mas
também por desejar preservar a cidade até à passagem da soberania. A FNLA
estava às portas de Luanda e nem era bom pensar no que aconteceria se
conseguisse ultrapassar as linhas de defesa e entrar na capital. Por esta altura,
o dispositivo militar português era mínimo e absolutamente incapaz de deter
dois exércitos envolvidos numa luta rua a rua, caso se desse a invasão. Por
seu lado, o MPLA encontrava-se sitiado e a desesperar por reforços, o que não
aconteceria enquanto não rompesse o cerco. De facto, havia sérias dúvidas de
que o MPLA sobrevivesse até à independência. A entrega do aeroporto foi,
portanto, decisiva para evitar que a cidade caísse antes de onze de Novembro
e, no fim, acabou por não cair de todo, muito se devendo esse desfecho à

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