— Só isto?
— Só isso. O gajo que telefonou disse que tu entenderias a mensagem.
— Que porra — disse Patrício, a falar sozinho. — Que grande porra! — E
voltou a sair a correr.
Durante o arriar da bandeira no largo da Fortaleza de S. Miguel as honras
militares foram prestadas pela cavalaria, fuzileiros e pára-quedistas. Um
fuzileiro rodeado de dois cabos, um de cada arma, recolheu a bandeira e
entregou-a ao Alto-Comissário. Concluiu-se assim o último acto solene
português em solo angolano. Suficientemente afastada para não estorvar a
cerimónia, Regina acompanhou aquele momento de grande simbolismo
patriótico com um olhar ausente, a alma em branco, incapaz de se concentrar
num raciocínio concreto. Fumava cigarro atrás de cigarro e limitava-se a estar
ali, tolhida na sua dor, indiferente a tudo. Só a chegada do jipe de Patrício é
que atraiu a sua atenção. Ele parou e fez-lhe sinais frenéticos de longe, sem
sair do carro, sem desligar o motor. Um braço agitado através da janela
aberta. Regina atirou o cigarro para o lado e foi logo ter com ele num passo
apressado.
— Entra — disse Patrício, quando Regina se aproximava do lado dele.
Ela hesitou, abriu os braços.
— O que foi?
— Entra! — Ela rodeou o jipe, abriu a porta do passageiro, entrou.
— O que é que se passa? — perguntou, já ele manobrava para dar a volta e
seguir pela rua estreita que levava à Fortaleza. — Onde é que vamos?
— Vamos buscar o Nuno — disse Patrício, sem tirar os olhos da estrada.
— Vamos o quê?!
— Já sei onde é que ele está.
Regina sentiu a garganta embargada por uma enorme emoção.
— Não acredito — disse, numa voz mal contida pelas lágrimas que lhe
afluíram aos olhos. — Meu Deus, Patrício, onde é que ele está?