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O jipe atravessou Luanda a grande velocidade e meteu pela estrada para
Viana, dirigindo-se para os subúrbios através dos musseques. Passou o Pão de
Açúcar, o cemitério, prosseguiu mais dois quilómetros e virou à esquerda, no
Bairro do Cazenga.
Pelo caminho, Patrício explicou a Regina a circunstância do recado
encontrado em cima da secretária. Não fez referência à sua fonte, apenas ao
papel, ao nome de Nuno e à morada que constavam nele. Era uma antiga
esquadra o que eles procuravam, e ficava por detrás da estação de caminho-
de-ferro.
— Quanto dinheiro tens contigo? — perguntou Patrício antes de chegarem.
— Uns cinquenta contos.
Ele olhou para ela espantado.
— O que foi? Não é uma parte da minha fortuna, é toda a minha fortuna.
Chega para subornar uns gajos, não?
Ele riu-se.
— Estás a brincar? — disse. — Chega para comprar a esquadra inteira!
Era um edifício decrépito de piso único, que só se distinguia na labiríntica
paisagem de casas incertas pela maior solidez da sua construção e pelas
grades nas janelas.
— Deve ser aqui — disse Patrício e, quando deu por isso, Regina já batera
com a porta do carro e estava lá fora a meia dúzia de passos da entrada da
esquadra.
— Vamos — gritou, eufórica. Parecia mentira, mas recuperara a
determinação num instante. Graças a Deus, não lhe disse que ele estava
morto, pensou Patrício, aliviado, ele próprio mais incrédulo do que ela. Ainda
lhe parecia inacreditável que a sua fonte lhe tivesse mentido e que fosse
encontrar o amigo dali a instantes. Bem, suspirou, se o encontrasse de facto.
A coluna militar da comitiva portuguesa deixou a Fortaleza de S. Miguel
pouco depois das quinze horas e trinta minutos. Dirigiu-se para a Cidade
Baixa e foi dar à estrada que ficava mesmo por baixo do morro onde se
impunha a Fortaleza, e que dava passagem para a Ilha de Luanda. A coluna