atravessou para a outra margem e seguiu em direcção à base naval, donde
haveriam de sair as lanchas que transportariam o Alto-Comissário, os seus
colaboradores e a escolta militar para os navios da frota que os aguardava
ancorada ao largo. Faltava menos de uma hora para a retirada ficar concluída.
Patrício teria preferido um bocadinho mais de prudência na abordagem,
mas Regina entrou pela esquadra adentro sem lhe dar tempo para pensar
numa estratégia de ataque. O primeiro impacto foi a penumbra, depois os
olhos começaram a habituar-se e descobriram um espaço dividido ao meio.
Do lado de lá os restos do que teria sido em tempos o espaço da burocracia
policial, do lado de cá a zona de atendimento, no meio um balcão. À esquerda
uma porta entreaberta deixava adivinhar um corredor escuro, à direita uma
parede com a tinta a descascar, donde pendia um placa de cortiça já só
pendurada por um dos cantos. Atrás deles, de cada lado da porta de entrada,
dois tipos enormes envergando camuflados dormitavam nuns bancos corridos
de madeira instável. Patrício e Regina voltaram-se nos calcanhares e
ofereceram-lhes um sorriso embaraçado. Os soldados abriram um olho
ensonado e Regina teve a desagradável sensação de que tinham despertado as
feras. Onde é que nos viemos meter?, pensou, preocupada.
— Boa tarde, camaradas — saudou-os Patrício. — Podemos falar com o
comandante?
Foi como se os camaradas não entendessem a língua que ele falava, mas
foram-se sentando, esfregando o rosto vagarosamente. Os bancos rangeram
sob o seu peso e Patrício pensou que a seguir lhe perguntariam o que havia
para o pequeno-almoço.
— O comandante? — arriscou.
— Quem és tu? — rosnou o da direita.
— Sou jornalista, da Emissora.
O tipo levantou-se muito devagar, sem lhe prestar atenção, ocupado a
compor o cinturão com um coldre pesado, puxando-o para cima. O outro
deixou-se ficar sentado, encostado à parede, a cabeça pendente para trás, a
ressonar de boca aberta, a aproveitar mais um bocadinho. O soldado em pé
olhou de lado para eles, confuso, ainda ensonado talvez, não disse nada.
Regina deu uma espreitadela em redor e reparou que, do outro lado do balcão,
as secretárias e as cadeiras tinham sido arredadas e empilhadas num canto da
sala e que havia um autêntico arsenal espalhado pelo chão. Lança-granadas
foguete RPG-7 , espingardas automáticas AK-47 , cunhetes e até uma