— O quê?!
— Branca , cocaína.
— Eu sei o que é, porra, mas onde é que julgas que vou arranjar essa
merda?
— Isso não sei.
— Pois, não sabes. Nem tu nem ninguém. Quanto é que querem?
— Meio quilo.
O homem atirou a cabeça para trás, simulando uma gargalhada sem
vontade, um «ah!» que lhe morreu logo na garganta.
— Rapazinho, rapazinho, ainda nem é meia-noite e já estás com a ganza?
Andaste a dar na fruta?
Nuno ignorou o comentário. Deu-lhe um momento para reflectir. Tirou o
maço de tabaco do bolso da camisa, acendeu um cigarro, expirou o fumo para
o ar húmido da noite.
— Quem quer comprar essa extravagância?
— Um gajo da alta.
— Hum...
— Até sexta, depois já não vale a pena. — O fornecedor olhou-o de lado,
enfurecido.
— O que é que essa merda quer dizer?! — Nuno encolheu os ombros.
— O cabrão dá uma festa na sexta.
— Ah, o cabrão dá uma festa no sexta, claro, tem de comprar os morfos, as
bebidas, a branca . O que é que o chavalo julga que esta merda é, o
supermercado? Ele acha que se arranja coca assim, sem mais nem menos?
Nuno deu uma passa no cigarro, fez uma expressão fatalista.
— O gajo tem a massa — disse.
— Ah, bom, então vou só ali ao armazém. Pró caralho! Tás armado em
quê? Queres dar-me a boca, cabrão?! Julgas que brincas comigo, faço-te a
folha.
— Okay , esquece. — Atirou fora a beata, ergueu-se na moto, fazendo
menção de pô-la a trabalhar. Era bluff , claro. O tipo estava à toa, desconfiado
mas tentado, por isso o ameaçava. Meio quilo de cocaína era muita cocaína. E