aqui e ali não se tivesse coibido de se aproximar de João Pedro para lhe ajeitar a roupa ou corrigir a
postura. Ele, sentado no banco alto no centro do cenário minimalista, pensava que havia um limite de
posições que podia escolher para tirar uma fotografia. Ao fim de alguns minutos, já não conseguia
rir-se, os seus lábios permaneciam rígidos. Não fosse a experiência de Carol para desbloquear essas
situações com boa disposição e espírito descontraído, e o resultado não seria melhor do que o retrato
replicado de um João Pedro embaraçado e taciturno. Mas ela sabia o que fazer para o ajudar a
ultrapassar os constrangimentos.
— Senta-te na beira do banco, como se estivesses só encostado, com um pé no chão. Isso mesmo.
Agora descontraído, isso! — Tirou uma rajada de fotografias. — Agora cruza os braços, mas com as
mãos por cima dos braços, quero ver as mãos. Olha para mim, perfeito. — Mais uma série. — Então,
e a Cristiane?
— O que tem?
— Onde é que ela anda?
— Está no Brasil.
— Ah, muito bem. Olha para mim. Um sorriso... Excelente. Vocês vivem juntos?
— Não exactamente.
— Não exactamente... — abanou a cabeça, como que a ponderar a afirmação dele. — O que é que
isso quer dizer?
— Vivemos no mesmo prédio. Somos vizinhos, mas não moramos juntos.
— E estão bem assim, suponho.
— Muito bem.
— Claro.
— Tu vives com o teu namorado?
— Já não é meu namorado.
— Desde quando?
— Desde o Brasil. Fartei-me dele.
João Pedro riu-se e Carol aproveitou a expressão dele para o bombardear com uma tempestade de
flashadas disparadas automaticamente de ângulos diferentes.
Quando ela se deu por satisfeita com o trabalho, pousou a máquina em cima de uma mesa de
apoio.
— Já está? — perguntou João Pedro.
— Já está — confirmou, aproximando-se dele, ainda sentado no banco. — O senhor precisa de
mais alguma coisa?
— O senhor aceita sugestões.
Bem, a forma como ela se aproximou dele, o tom insinuante que empregou para lhe fazer a
pergunta, toda a sua postura já era por si só uma sugestão bastante óbvia, que João Pedro nada fez
para travar. Carol encostou-se ao joelho dele, pousou as mãos no seu pescoço, puxou-o para si,
beijou-o na boca.
— Estava à espera do teu telefonema — segredou-lhe, com uma voz rouca de mulher rendida.
João Pedro caminha nas nuvens. A vida é leve. Em tempos foi difícil, mas agora é fácil. O segredo,
pensa, é viver no presente e ignorar o futuro. Não quer saber do que vem lá, só do que tem agora. Se
pensasse no futuro, teria de fazer escolhas e isso estragaria a sua felicidade, porque a vida é fazer