parte, Carol tinha mesmo um corpo belíssimo, ainda que o adjectivo escultural pudesse ser rebatido
por alguns espíritos mais exigentes. O que interessa é que João Pedro estabeleceu logo na sua mente
que nunca vira uma mulher com umas curvas tão perfeitas, como se tivessem sido desenhadas pela
mão escrupulosa de algum artista de génio.
Naturalmente, ele fez comparações entre Carol e Cristiane. E se a primeira tinha um corpo mais
perfeito, a segunda tinha, definitivamente, um rosto mais bonito. O rosto de Cristiane fazia os homens
voltarem-se na rua. Já Carol, tanto podia passar despercebida por entre a distracção dos transeuntes,
como levá-los a conceber fantasias tão dissolutas que não poderiam ser reproduzidas livremente em
público. Tanto, dependia de como ela se apresentava, pois, não sendo de modo algum uma mulher
feia, também não era linda. Valiam-lhe os outros preciosos argumentos, sempre que pretendia dar nas
vistas. Um vestido vaporoso de estio, uma saia colegial mais curta ou umas calças justas que lhe
moldassem as formas, eram expedientes bastantes para a fazer sobressair na multidão.
Carol era alta e desinibida. Usava o cabelo castanho-claro liso cortado à pajem e tinha a
linguagem corporal determinante das pessoas carismáticas. Graças a essa sua característica, que
exercia um efeito magnetizante nos outros, Carol já conseguira fotografar um número apreciável de
pessoas famosas. João Pedro era só mais um. Ela dava-se muito com gente que as revistas cor-de-
rosa designavam de figuras públicas e namorara com alguns actores e empresários bem conhecidos
— se João Pedro tivesse o hábito de ler essas revistas, provavelmente tê-la-ia reconhecido logo que
a conhecera, das fotografias ao lado dos seus namorados famosos.
Infelizmente para Carol, a estabilidade emocional não costumava ser o forte dos homens que
gostava de conquistar, de modo que ainda não conseguira assentar. Já tivera a sua quota-parte de
desilusões. Ultimamente porém, o alarme do relógio biológico de Carol soava, instigando-a a pensar
seriamente em ter um filho. Ela dizia a si própria que estava preparada para ser mãe solteira, embora
preferisse ter o pai da criança ao seu lado. Não era ainda um projecto inteiramente planeado, mas ia
ganhando forma na cabeça de Carol, que tinha, realmente, vontade de ter um filho. Era, enfim, um
plano um pouquinho desesperado, dado que não conseguia arranjar um homem que a amasse e que ela
pudesse amar. O casamento tornara-se um sonho sempre adiado.
João Pedro teve-a no chão do estúdio. Tal como na primeira vez com Cristiane, ele achou aquilo
tudo muito normal. Se antes não fazia ideia de como se conquistava uma mulher, agora parecia que
não precisava de fazer nada de especial. Elas iam ter com ele e acontecia, simplesmente. O sucesso
de João Pedro com as mulheres resultava em grande medida de não sentir qualquer constrangimento e
de transmitir uma enorme confiança. Paradoxalmente, essa confiança devia-se apenas à sua
extraordinária ingenuidade, pois acreditava que estava destinado a ter um romance com aquelas
mulheres. Ele sabia, tinha-o previsto. Ora, o que não dependia de si não lhe exigia nenhuma
qualidade especial. Ser bonito ou feio, experiente ou inexperiente, era irrelevante.
Mas era muito bom, pensava, enquanto esticava os braços e juntava as palmas das mãos com as de
Carol, ele em cima dela, ela deitada de costas, também com os braços esticados para lá da cabeça,
impedida de os movimentar. Os seus corpos colados adquiriram um ritmo lento, mas fogoso. Carol
laçou as pernas em redor da cintura de João Pedro, cruzou os tornozelos nas costas dele e ficaram
presos um ao outro, sentindo-se com a profundidade de dois corpos que se completavam como as