ele te convide para o quarto. Então — abriu os braços teatralmente — porque não?!
— Pois, de facto — concordou Carol, esforçando-se para não parecer que achava aquilo tudo
sórdido.
— E o melhor é que se passares a noite com ele ganhas muito mais — acrescentou a amiga,
sorridente.
Carol perguntou-lhe quanto é que uma rapariga podia ganhar numa noite e quase se engasgou
quando ouviu a resposta.
— Se quiseres, apresento-te à senhora que trata dos encontros — ofereceu-se a colega. — É fácil,
ela só aceita estudantes, miúdas giras como nós, que precisam de dinheiro e não fazem perguntas nem
arranjam problemas.
Carol disse à colega que ia pensar no assunto. A outra incentivou-a, como se não houvesse nada
para pensar:
— Anda lá, não sejas parva, andas aí a passar fome quando podes ganhar um monte de dinheiro. Já
viste que se te acabavam todas as preocupações?
Separaram-se, Carol apanhou o metro para o trabalho e, no caminho, foi a pensar que, realmente, a
amiga talvez tivesse razão. E quanto mais ponderava a proposta, menos a repugnava. Afinal, qual era
o problema se lhe pagassem para jantar com uns tipos endinheirados? Ninguém a obrigava a ir para a
cama com eles, porque isso, ela sabia que não faria. Aquilo não lhe saiu da cabeça durante todo o
dia. Ao chegar à pensão, à noite, já estava decidida, no dia seguinte pediria à colega para a
apresentar à senhora que arranjava os encontros. Foi deitar-se aliviada, os seus problemas de
dinheiro estavam prestes a resolver-se.
A mente humana é um poço de profunda complexidade onde vibra uma permanente inquietação.
Carol podia ter resolvido aceitar a proposta da colega e ter adormecido mais tranquila, porque
encontrara por fim a solução para os seus problemas, mas não foi isso que aconteceu. Nunca era. Não
conseguiu adormecer, havia algo que a incomodava. A colega dissera que a senhora só contratava as
raparigas para acompanharem os clientes e que a parte do quarto de hotel não fazia parte do acordo.
Só vais se quiseres, é lá contigo, dissera ela. No entanto, Carol perguntava-se o que aconteceria se
se recusasse a dormir com os clientes. Agora que pensava nisso, a resposta parecia-lhe óbvia:
haveria queixas e, na vez seguinte, o cliente já não quereria sair com ela. A senhora não pressionava
as raparigas a irem para a cama com os clientes porque a natureza do negócio encarregava-se disso.
Nem precisava de dizer nada, ou elas alinhavam ou eram rejeitadas.
Carol dava voltas na cama, analisava todos os ângulos da questão, procurava argumentos razoáveis
que lhe sossegassem o espírito e lhe permitissem ir em frente sem sentimentos de culpa. Queria muito
fazer aquilo e, não fosse a maldita consciência, ter-se-ia atirado de cabeça sem pensar duas vezes.
Pensou que poderia experimentar e, se não lhe agradasse, não repetir. Mas também pensou que
depois seria muito difícil desistir do dinheiro e que, provavelmente, ver-se-ia enredada numa teia de
onde não seria fácil libertar-se. Sentia-se tentada, mas hesitava.
Vou aceitar, é só uma experiência. Não, não posso aceitar porque depois não consigo abdicar do
dinheiro. Se digo que sim uma vez, estou tramada. Se aceitar ir para a cama por dinheiro, sou uma
pega. Não, é claro que não vou para a cama com ninguém por dinheiro. Ou vou? Será que, na