Dividia o seu tempo entre as aulas e a loja, na qual aproveitava os momentos mortos para estudar.
À noite, no quarto, mordiscava uma refeição leve enquanto tentava manter-se a par da matéria, mas
os seus olhos fechavam-se e cabeceava em cima dos livros. No primeiro semestre, obteve notas
positivas, mas ficou mesmo à beira da catástrofe, com uma média de que não se podia orgulhar.
Era frustrante, Carol estava rodeada de colegas despreocupadas que desbaratavam alegremente em
bares e discotecas as mesadas estapafúrdias que recebiam dos pais e, ainda assim, tinham melhor
aproveitamento nas aulas. Houve momentos em que sentiu vontade de desistir da faculdade. Porque
não? Se não tivesse de pagar os estudos, poderia continuar a trabalhar e a viver em Lisboa.
Um dia, ao desabafar com uma colega sobre as dificuldades que atravessava, foi tentada com uma
proposta providencial.
— Nem sei como chego viva ao fim do mês — disse Carol. — Como é que tu consegues?
A colega encolheu os ombros.
— Faço alguns trabalhos, normalmente uma vez por semana. É mais do que suficiente.
— Trabalhos? Que trabalhos?
— Conheço uma senhora que arranja encontros com empresários ricos, tipos que vêm a Lisboa em
negócios e querem companhia.
Caminhavam as duas, lado a lado, na rua, à saída da faculdade. Carol estacou, de boca aberta,
gaguejou:
— Tu... tu... estás a dizer que... vais a esses encontros?
A colega, uma morena de franjinha, olhos inocentes, ares de menina frágil, olhou para ela com uma
condescendência surpreendente.
— Oh, Carol, não sejas ingénua — atirou-lhe.
Ela engoliu em seco, recompôs-se da surpresa, retomou o passo.
— O que é que fazes nesses encontros? — perguntou-lhe.
— Depende, podes limitar-te a fazer companhia e a seres simpática com o cliente. Em geral,
levam-nos a jantar com os parceiros de negócios a restaurantes caros. Come-se muito bem — sorriu,
oferecendo-lhe uma expressão maliciosa.
— É só isso?
— Só isso. É claro que muitos deles, a seguir ao jantar, convidam-nos para irmos até ao quarto do
hotel. Na verdade, todos convidam! — abriu significativamente os olhos e soltou uma gargalhadinha
breve.
— A sério?! — espantou-se Carol.
Ela abanou a cabeça.
— Hum-hum, mas isso não faz parte do acordo com a senhora. Só vais se quiseres, é lá contigo.
— E o que fazes com eles no quarto?
A outra olhou para Carol como quem pergunta és parva ou quê?
— O que é que achas? — disse.
Carol sentiu-se corar, embaraçada.
A colega enfiou um braço no dela e levou-a rua fora, assumindo uma cumplicidade paternalista.
— Não fiques escandalizada, minha querida, não é tão mau como estás a pensar. Ninguém nos
obriga a fazer nada que não queiramos. A ideia é só fazer companhia aos senhores, mas comes um
bom jantar, bebes ainda melhor, estás divertida, às vezes o homem é um pão e queres mesmo é que