— Só te peço cinco minutos, Cristiane, preciso de perceber o que se passou na outra noite. Foi
tudo tão, tão surreal!
— Tu para mim já não existes e eu não sou maluca, não falo com pessoas que não existem.
— Mas...
Ela volta-lhe as costas, entra em casa, fecha a porta.
Nos primeiros dias após a noite fatídica, João Pedro andou completamente baralhado. Tentou falar
com Cristiane, debalde; tentou telefonar a Carol dezenas de vezes, não atendeu. Passou uma semana,
duas, três, e elas não cederam um milímetro na sua determinação em ignorá-lo. João Pedro estava um
farrapo, metido em casa a congeminar estratégias absurdas para recuperar os favores das suas divas,
fantasias que não o levavam a lado nenhum. Deu-lhe para fumar charutos, gostava de fumegar como
um comboio enquanto gastava o tapete da sala a ponderar o seu infortúnio, como desatar o nó, que
fazer para regressar à companhia esplendorosa daquelas mulheres estonteantes? Mas não tinha um
pensamento interessante, não lhe surgia uma ideia decente. Precisava de um amigo, era isso! Onde
diabo iria arranjar um amigo de última hora que lhe escutasse as desgraças? Agarrou-se ao
telemóvel, percorreu a lista de contactos, nada, nem um nome a quem pudesse chamar amigo.
Suspirou, rendeu-se à evidência, ligou a André, marcou almoço no Gambrinus.
O marchand achou-o abatido, tristonho, o que se passava?
— Não vais acreditar no que me aconteceu — disse João Pedro. — Pede aquele vinho que eu
gosto.
— Está bem. O que te aconteceu?
Um desastre, tinha-lhe acontecido um desastre. Contou-lhe tudo com os pormenores mais sórdidos.
André, deliciado, ouvia-o enquanto fumava com afectada elegância o seu cigarro com uma boquilha
comprida, a fazer lembrar Cruela Devil. Já estava habituado a ser o confidente de artistas na lama.
Os artistas eram sempre tão dramáticos! Mas este caso dava-lhe vontade de rir, era hilariante.
— Estás a ver, eu ali já de camisa e calças abertas, e elas a lamberem-se todas em cima de mim.
— A lamberem-se todas?!
— Sim, aos beijos, a enfiarem a língua na boca uma da outra.
— Estou a ver.
— Não estás não, tu não imaginas.
— Imagino, pois. Elas estavam nos linguados em cima de ti.
— Pois, isso. Estás a ver o meu tesão!
— Isso não estou, mas sim, posso imaginar.
— André, estás a gozar?
— Não, não! — pôs-se sério —, continua. E depois? — E depois nada, elas tinham-se ido embora
de mão dada para a casa de Cristiane e deixaram-no pendurado. Enfim, era isto. — Elas foram-se
embora e deixaram-te sozinho?
— Sim. Dá para acreditar?
— Incrível...
— Deixaram-me de calças na mão, literalmente!
André foi segurando o riso, mantendo uma expressão tão neutra quanto conseguiu, segurando o
canto do lábio que tremia numa luta para segurar a gargalhada iminente, mas quando ele disse aquilo,