olhos os passageiros em redor.
Cristiane teve uma expressão engraçada e encolheu os ombros.
— Ossos do ofício — disse.
Perguntou-lhe ainda se precisava de alguma coisa, João Pedro respondeu-lhe que não, que fosse
descansar e não se preocupasse com ele.
Já sentada no seu lugar, Cristiane deu consigo suspensa num sorriso tolo, a pensar em João Pedro.
Era a primeira vez em tantos anos de carreira que convidava alguém para a acompanhar numa
viagem. Sentia-se surpreendentemente feliz, mas também confusa com a felicidade que ele lhe
proporcionava, e questionava-se, perplexa, se seria aquilo o amor. Era tudo tão inesperado,
envolvera-se muito depressa, sem o conhecer verdadeiramente, e não estava à espera de se
apaixonar. Enfim, se é que se apaixonara mesmo, pois não fazia o seu género aplicar de ânimo leve a
si própria a palavra apaixonada. Tentou lembrar-se quando fora a última vez, mas desistiu logo
porque não lhe apetecia revisitar as recordações dolorosas dos fracassos de outrora. E tinha a
certeza de que, por mais que se esforçasse por se lembrar, não encontraria no seu passado nenhum
homem que a tivesse feito sentir o que estava a sentir agora. Teve vontade de dar uma gargalhadinha,
mas não queria que a colega, que folheava uma revista ao seu lado, lhe pedisse explicações sobre
aquela euforia que lhe fazia bem. Suspirou, não sabia se era paixão, mas pretendia dar uma
oportunidade a esta relação. Desta vez não vou estragar tudo por causa dos meus medos idiotas,
pensou. Vou ser mais esperta e aproveitar a oportunidade.