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O Copacabana Palace era considerado o hotel mais requintado da cidade. Num desdobrável
disponível nas suítes lia-se que fora inaugurado em 1923 e que se mantinha até aos dias hoje o mais
tradicional entre os hotéis de luxo do Rio de Janeiro. O arquitecto Joseph Gire inspirara-se no
Negresco, de Nice, e no Carlton, de Cannes, quando o projectara. Situava-se na Avenida Atlântica,
numa frente privilegiada para a praia de Copacabana.
Quando ia em trabalho, Cristiane costumava ficar instalada noutro hotel, a expensas da companhia,
igualmente confortável, mas uns bons furos abaixo do Copa. Desta vez decidira dispensar as
acomodações a que tinha direito e gastar uma pequena fortuna para passar uma semana com João
Pedro no hotel mais exclusivo do Brasil. Custar-lhe-ia o equivalente a vários meses de ordenado,
mas ela não estava preocupada com o dinheiro. A herança que recebera do pai permitia-lhe algumas
extravagâncias e, de qualquer modo, assim que o táxi os deixou à entrada do hotel, Cristiane teve a
certeza de que não se arrependeria.
No átrio, despontou a súbita animação de um grupo de gente excitada que se cruzou com eles em
direcção ao exterior do hotel, onde uma frota de limusinas os aguardava. Cristiane reconheceu de
imediato, no centro do grupo, a superfamosa cantora Rihanna, e o funcionário que se ocupava do
check-in informou-os, em jeito de discreta revelação, que a artista viera ao Rio de Janeiro para uma
sessão de fotografias da revista Vogue. Rihanna saiu do hotel com o seu numeroso e barulhento
séquito a atropelar-se para a cobrir de atenções e entrou muito depressa no carro que a esperava. Os
assistentes correram para os restantes carros a gritar ordens uns aos outros e bateram com as portas.
Rugiram os motores, a caravana arrancou por entre um turbilhão de flashes e gritos de admiradores
excitados que aguardavam na rua a oportunidade de ter nem que fosse um vislumbre da cantora.
Cristiane e João Pedro observaram espantados o rebuliço lá fora, sem perceberem de onde tinham
surgido aqueles paparazzi todos e os fãs entusiasmados, de cuja presença não se haviam apercebido
ao chegar há pouco no táxi. Mas estas cenas eram muito comuns no Copacabana Palace, esclareceu o
funcionário atrás do balcão, que exibia uma atitude extraordinariamente circunspecta de grande
gentleman , como não querendo dar excessiva importância àqueles factos assombrosos que faziam
parte da normalidade do hotel. Afinal, já passara pela sua recepção uma lista interminável de
personagens mundiais. Mas logo traiu a sua indiferença estudada ao contar-lhes com uma pontinha de
orgulho que, ainda recentemente, Justin Bieber fora expulso do hotel por ter feito estragos
consideráveis numa das suítes do sexto andar, cujo acesso por elevador era condicionado por uma
chave entregue aos hóspedes mais ilustres. Doutro modo, o elevador não funcionava.
Estas notícias inusitadas sobre as excentricidades dos hóspedes famosos que frequentavam o
Copacabana Palace animaram sobremaneira Cristiane, que não estava à espera de ter encontros
excitantes com pessoas de outros planetas. Já João Pedro, absorveu estes acontecimentos mergulhado