profissionalismo para controlar a ansiedade e dominar os nervos de modo a
estar em perfeitas condições de receber o filho e conseguir ocupar-se dele sem
vacilar. Enquanto esperava, ligou para Filipe, mas o celular do marido estava
desligado. Deixou-lhe uma mensagem de voz, depois outra, escrita, e em
seguida tentou ligar-lhe mais três vezes, mas a chamada foi sempre
encaminhada para a caixa de mensagens.
Quando a ambulância chegou, Patrícia precipitou-se para a porta traseira.
Verificou logo os sinais vitais do filho, encontrou-o consciente e alerta. Isso a
sossegou, era bom sinal, mas levou-o para dentro e submeteu-o a todos os
testes possíveis. Os exames arrastaram-se pela tarde e, entretanto, Patrícia foi
insistindo com chamadas e mensagens para Filipe, mas o celular manteve-se
mudo, como se ele se tivesse desligado do mundo. Imaginou que Filipe
tivesse esquecido o telefone em casa e estivesse no escritório, o que
significava que ficaria incomunicável até à noite.
Filipe passara a tarde com Isabel, na casa dela. Chegara depois do almoço e,
ainda no elevador, desligara o celular. Ela recebeu-o como sempre, com um
sorriso sereno, um abraço, um longo beijo, feliz por vê-lo. Sentaram-se no
sofá da sala e ali ficaram conversando durante algum tempo. Beijaram-se, ela
levantou-se, estendeu-lhe a mão, encaminhou-o para o quarto.
Depois de fazerem amor deixaram-se estar na cama, abraçados. Mais tarde,
voltaram a fazer amor. As horas foram correndo sem pressa e não se
importaram com o passar do tempo, porque naqueles momentos ignoravam o
mundo. O mundo e as suas complicações não existiam.
Filipe só voltou a ligar o celular no final da tarde, quando se despedia de
Isabel, e então reparou que tinha várias chamadas não atendidas de Patrícia e
outras tantas mensagens.
Isabel viu-o empalidecer enquanto escutava a primeira mensagem.
– Algum problema? – perguntou-lhe, preocupada.
– O meu filho teve um acidente – gaguejou Filipe, assustado.
– O que é que aconteceu?
– Parece que caiu e bateu com a cabeça.
– É grave, Filipe?
– Não sei – respondeu ele, olhando em volta, desorientado, à procura da
carteira, do casaco. – Tenho de ir embora.