desconfiada de que Filipe não contava a verdade. A sua explicação fora
plausível, mas o embaraço óbvio que ele evidenciara, não.
Filipe só telefonou para Isabel no dia seguinte e, entretanto, ela se consumiu
de preocupação com a falta de notícias. Não sabia nada sobre a gravidade da
situação e não podia fazer nada senão esperar. Não podia contatá-lo, nem
sequer arriscar-se a telefonar-lhe ou a enviar-lhe uma mensagem. Filipe
sentiu-se mal com o sucedido, ficou perturbado. Falhara quando o filho
precisara dele, falhara quando a mulher ligara pedindo ajuda. E não fora um
simples erro, uma distração desculpável, como defendera. Não, falhara à
família porque estava com Isabel enquanto o filho era levado para o hospital.
No fim, não acontecera nada de grave, a criança não corria perigo e só
precisaria de um dia ou dois de descanso, mas Filipe sentia-se culpado por
não ter estado presente. Não passou pela sua cabeça enviar uma mensagem a
Isabel, dizendo que estava tudo bem.
Sem notícias, em casa, Isabel passou a noite sem conseguir dormir,
assustada. Como Filipe não lhe disse nada, receou que tivesse acontecido algo
grave. E ele só telefonou no início da tarde do dia seguinte.
– Passei a noite aflita – lamentou-se Isabel. – Você podia ter mandado uma
mensagem dizendo que estava tudo bem.
– Você tem razão, desculpa, mas foi uma confusão em casa e a Patrícia
ficou furiosa comigo por causa do celular desligado e, olha, não consegui te
falar nada.
– Uma mensagem, Filipe?
– Eu sei, Isabel, já pedi desculpa.
Depois disso, Isabel compreendeu que não poderia continuar a viver assim.
Ele nunca abandonaria a mulher, pensou. Teria de deixá-lo agora, caso
contrário, mais tarde, o sofrimento seria maior.